Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras
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Cem anos <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong>: Uma apresentação<br />
índios, o romancista baiano exalta a miscigenação, observa que a mistura étnica<br />
no país teve como importante conseguência a criação <strong>de</strong> uma mestiçagem cultural<br />
e prega que nos orgulhemos <strong>de</strong>la. Às vezes até em arroubos <strong>de</strong> tom oratório.<br />
Essa pregação po<strong>de</strong> vir pela boca <strong>de</strong> personagens, como Pedro Archanjo, e ser<br />
repetida <strong>de</strong> formas diferentes. Po<strong>de</strong> vir como uma constatação nítida e enfática:<br />
“É mestiça a face do povo brasileiro e é mestiça a sua cultura.”<br />
Po<strong>de</strong>-se apresentar sob a forma <strong>de</strong> uma hipótese levantada por Pedro<br />
Archanjo. quase no jargão das Ciências Sociais:<br />
“Se o Brasil concorreu com alguma coisa válida para o enriquecimento<br />
da cultura universal foi com a miscigenação – ela marca nossa presenca no<br />
acervo do humanismo, é a nossa contribuição maior para a Humanida<strong>de</strong>.”<br />
Ou po<strong>de</strong> ser expressa, sempre por Archanjo, num tom conclamatório e<br />
profético.<br />
“Formar-se-á uma cultura mestiça <strong>de</strong> tal maneira po<strong>de</strong>rosa e inerente a<br />
cada brasileiro que será a própria consciência nacional, e mesmo os filhos<br />
<strong>de</strong> pais e mães imigrantes, brasileiros <strong>de</strong> primeira geração, crescerão culturalmente<br />
mestiços.”<br />
Para vermos a extensão <strong>de</strong>sse fenômeno, basta lembrar que no Brasil há<br />
comunida<strong>de</strong>s ciganas com seus próprios terreiros <strong>de</strong> umbanda. É possível<br />
argumentar que na realida<strong>de</strong> esse diagnóstico <strong>de</strong> <strong>Amado</strong> tem limites e distorções.<br />
Ou que se trata <strong>de</strong> uma opinião utópica, polêmica ou discutível. Mas<br />
daí a chamar o autor <strong>de</strong> racista vai enorme distância. O mínimo que se espera<br />
<strong>de</strong> uma crítica acadêmica é que leia o que o autor escreveu. E é isso o que, por<br />
vezes, a recepção <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong> em certos meios parece estar <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong><br />
fazer. Mas é isso o que propomos na celebração dos seu centenário. Vamos<br />
discutir suas i<strong>de</strong>ias, a partir da leitura <strong>de</strong> sua obra. É esse o convite que lhes<br />
fazemos.<br />
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