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Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras

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Cem anos <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong>: Uma apresentação<br />

No que se refere à abordagem das questões étnicas, a obra <strong>de</strong> <strong>Amado</strong> também<br />

merece um olhar atento que não fique na superfície. Nessa área, vale lembrar<br />

como a recepção crítica variou nos últimos tempos, mesmo nos meios<br />

universitários <strong>de</strong> língua inglesa. Na década <strong>de</strong> 1960, Gregory Rabassa, exprofessor<br />

da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Colúmbia e autor <strong>de</strong> O negro na Ficção <strong>Brasileira</strong>, 1<br />

não teve nenhuma dificulda<strong>de</strong> em reconhecer que é <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong> o melhor<br />

retrato dos negros da Bahia e dos Estados vizinhos. Todos os romancistas da região juntos não<br />

chegam a dar uma parte <strong>de</strong> sua visão panorâmica <strong>de</strong>ssa existência.<br />

Outros autores, como David Brookshaw 2 ou David Haberly 3 , e porta-vozes<br />

dos movimentos <strong>de</strong> militância negra, preferem lamentar a naturalida<strong>de</strong> com que<br />

<strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong> aceita o que seria uma corrosão advinda da mestiçagem, enquanto<br />

valorizam mais a pureza étnica, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a manutenção da separação – ainda<br />

que flexibilizada. Justificam tal posição com o argumento <strong>de</strong> que veem como<br />

uma necessida<strong>de</strong> a afirmação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> até então prejudicada pela História.<br />

Nesse caso, não há dúvidas <strong>de</strong> que a obra <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong> tem tudo para<br />

<strong>de</strong>spertar críticas. O que ele quer não são i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s puras, mas a soma das<br />

diferenças. Como bem sintetiza Eduardo <strong>de</strong> Assis Duarte:<br />

“Em Tenda dos milagres ocorre, em paralelo ao discurso da elevação da raça<br />

negra, um elogio à miscigenação e ao cadinho cultural brasileiro. Em certa<br />

medida, tributário das teses <strong>de</strong> Gilberto Freyre relativas à <strong>de</strong>mocracia racial.<br />

É um tópico polêmico, a requerer por sua complexida<strong>de</strong> um outro estudo,<br />

mas que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> estabelecer uma tensão entre a representação i<strong>de</strong>ntitária<br />

da raça negra na obra amadiana e a visão que hoje têm os <strong>de</strong>fensores<br />

<strong>de</strong> uma negritu<strong>de</strong> íntegra em sua fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à pureza original africana.”<br />

Um tópico polêmico, é verda<strong>de</strong>, mas também uma questão crucial na utopia<br />

amadiana, em que a transformaçâo social tem suas raízes na dinâmica<br />

1 Editora Tempo Brasileiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1965.<br />

2 Brookshaw, David, Raça & cor na Literatura <strong>Brasileira</strong>, tradução <strong>de</strong> Marta Kirst, Porto Alegre: Mercado<br />

Aberto, 1983<br />

3 Haberly, David T. – Three sad races: racial i<strong>de</strong>ntity and national consciousness in Brazilian literature, Cambridge:<br />

Cambridge University Press, 1983<br />

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