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Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras

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Gilberto Freyre em contexto: algumas reflexões<br />

emigração <strong>de</strong> afro-americanos eram apresentados por alguns <strong>de</strong> seus lí<strong>de</strong>res,<br />

antes mesmo que a escravidão fosse abolida no Brasil. 3<br />

É a essa tradição que Gilberto Freyre e <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong> pertencem, e é nela<br />

que eles <strong>de</strong>sempenharam um papel extremamente importante, um papel reconhecido<br />

tanto por admiradores como por críticos dos dois autores. Para<br />

um admirador eloquente, um jornalista nos anos 1940, por exemplo, eles<br />

representavam “a inteligência mais avançada” a serviço da “re<strong>de</strong>nção <strong>de</strong> nosso<br />

país pela <strong>de</strong>mocracia social”. 4 Os críticos têm sido não menos eloquentes<br />

ao apresentarem Freyre e <strong>Amado</strong> como figuras que nutriam e disseminavam<br />

um mito <strong>de</strong> harmonia racial, que, embora belo, era bastante pernicioso. O<br />

senador, escritor e ativista afro-brasileiro Abdias Nascimento, por exemplo,<br />

disse que ambos “contribuem enormemente para a <strong>de</strong>sinformação <strong>de</strong> leitores<br />

estrangeiros” no tocante à situação <strong>de</strong> raça no Brasil, perpetuando, ambos,<br />

uma mentira e “a dominação exercidas pelas classes dominantes sobre os brasileiros<br />

<strong>de</strong> origem africana”. 5<br />

Po<strong>de</strong> ser instrutivo começarmos com uma breve comparação entre Freyre e<br />

<strong>Amado</strong>, autores que po<strong>de</strong>riam ser, <strong>de</strong> forma simplista, contrastados como <strong>de</strong><br />

direita e <strong>de</strong> esquerda. Além do fato <strong>de</strong> que suas atitu<strong>de</strong>s políticas se transformaram<br />

ao longo do tempo – “na cena política nós coincidimos e divergimos”,<br />

dizia <strong>Amado</strong> – há muito mais em comum do que a oposição política sugere,<br />

a começar pelo fato <strong>de</strong> que foram amigos fiéis por toda a vida. Em certa<br />

ocasião, Freyre <strong>de</strong>screveu sua amiza<strong>de</strong> nos seguintes termos: “Nós dois lançamos<br />

nossas carreiras quase que ao mesmo tempo e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então temos sido<br />

não apenas amigos, mas camaradas literários, envolvidos na mesma aventura<br />

revolucionária em curso. Nós não paramos. Nós não nos tornamos um novo<br />

establishment. Não estamos satisfeitos com nossos triunfos”. 6<br />

3 M.L. G. Pallares-Burke, Gilberto Freyre and Brazilian Self-Perception.<br />

4 Entrrevista para o Diário <strong>de</strong> Noticias, <strong>de</strong> Salvador, In: Freyre, “Uma campanha maior do que a abolição”.<br />

1945.<br />

5 Cit. in “From Apartheid to Barbarism: Backwards ever. Forward never” (in ixwa.hubpages,<br />

acessado em junho <strong>de</strong> 2012).<br />

6 G. Freyre, “Uma meia-Raça talvez necessária, 1959.<br />

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