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Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras

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Gilberto Freyre em contexto: algumas reflexões<br />

interdisciplinar – bastante na moda hoje em dia – era escandaloso para muitos<br />

quando ele começou a praticá-lo no começo dos anos 1930.<br />

Como o crítico norte-americano Lewis Mumford (cuja obra ele muito admirava),<br />

G. Freyre po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito como um generalista, um não-especialista<br />

ou mesmo um antiespecialista. Ele via a si mesmo como um homem <strong>de</strong> letras<br />

mais do que como um acadêmico e ficava bastante aborrecido quando isso<br />

não era reconhecido, tendo, certa feita, comparado seus próprios dons literários<br />

com os <strong>de</strong> Guimarães Rosa e <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong>. Ele queria que sua prosa<br />

“dançasse” (ele lamentava, por exemplo, o fato <strong>de</strong> que podia apenas “andar<br />

em inglês, porém não dançar na ponta dos pés”) e criou uma mistura peculiar<br />

<strong>de</strong> estilo oral e estilo literário. Ele se <strong>de</strong>stacou como jornalista profissional<br />

e também como professor <strong>de</strong> Sociologia. Era também um artista amador e<br />

um romancista – ou “semirromancista”, tendo publicado o que ele <strong>de</strong>screvia<br />

como duas “semi-novelas”. No que se refere a seus talentos literários,<br />

provavelmente eles aparecem <strong>de</strong> forma mais evi<strong>de</strong>nte em suas obras históricas,<br />

on<strong>de</strong>, como Rachel <strong>de</strong> Queiroz afirma, as personagens, tanto as menores<br />

como as menores, “pulsam e vêm à vida” em suas páginas. 9<br />

Se fizermos a distinção tornada famosa por Isaiah Berlin, po<strong>de</strong>mos dizer<br />

que Freyre era, ao mesmo tempo, uma raposa e um ouriço. Uma raposa por<br />

conta <strong>de</strong> sua curiosida<strong>de</strong> onívora e sua habilida<strong>de</strong> em, como uma esponja,<br />

absorver i<strong>de</strong>ias das mais diversas fontes. E um ouriço graças a sua preocupação<br />

(ou mesmo obsessão), que duraria toda a vida, com a interpretação do<br />

Brasil em termos <strong>de</strong> alguns temas recorrentes, como o a família patriarcal e<br />

o hibridismo cultural, temas que são centrais em sua famosa trilogia sobre a<br />

História do Brasil.<br />

Retornando à comparação entre <strong>Amado</strong> e Freyre, alguns paralelos po<strong>de</strong>m<br />

ser estabelecidos.<br />

Ambos tinham fortes conexões familiares com o universo agrário, e ambos<br />

experimentaram a vida fora do país, o que transformou suas i<strong>de</strong>ias e trajetórias.<br />

As experiências <strong>de</strong> Freyre das estadas nos Estados Unidos e na Europa,<br />

9 R. Queiroz, 1948.<br />

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