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Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras

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O Brasil <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong><br />

entendimento a respeito <strong>de</strong> minha própria cultura e socieda<strong>de</strong>, e é marcado<br />

pela <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> que a vida social brasileira era dominada por elos, vínculos,<br />

laços e ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> todos os tipos.<br />

É um equívoco interpretar o Brasil a partir <strong>de</strong> um cidadão individual que,<br />

como um norte-americano ou um Robinson Crusoé, segue apenas seus projetos.<br />

Ele faz isso, mas, ao mesmo tempo, obe<strong>de</strong>ce suas relações. E cada elo<br />

po<strong>de</strong>ria levar a uma esfera ética ou social marcada por um código singular, <strong>de</strong><br />

forma que, no final – ou como um todo –, o paradoxo e as triangulações se<br />

tornaram uma referência para o que <strong>de</strong>tectei como sendo “o dilema brasileiro”<br />

no livro Carnavais, malandros e heróis, publicado em 1979.<br />

O centro do dilema era: <strong>de</strong>vemos seguir leis públicas que são válidas para<br />

todos ou driblar o or<strong>de</strong>namento, a fim <strong>de</strong> prover um amigo querido? Qualquer<br />

das escolhas teria como resultado consequências e cálculos precisos, como a<br />

História do Brasil incessantemente revela.<br />

Em minha busca por <strong>de</strong>monstrar que o Brasil é uma socieda<strong>de</strong> marcada por<br />

relações <strong>de</strong> todos os tipos e é um país que abrange um estado-nação com uma<br />

ban<strong>de</strong>ira, um território bem <strong>de</strong>limitado, uma moeda corrente e outros signos<br />

<strong>de</strong> sistemas mo<strong>de</strong>rnos como <strong>de</strong>finidos pelas revoluções Americana e Francesa,<br />

encontrei na obra <strong>de</strong> <strong>Amado</strong> um pote <strong>de</strong> ouro.<br />

A partir <strong>de</strong> Gabriela, encontrei em suas páginas o equivalente feminino dos<br />

heróis brasileiros clássicos, em combate com <strong>de</strong>cisões impossíveis e paradoxos<br />

pessoais. Conectei Gabriela – a garota pobre, <strong>de</strong>stinada a ser prostituta, mas<br />

livre para tomar <strong>de</strong>cisões e viver sua própria liberda<strong>de</strong> – com Pedro Malasartes,<br />

o famoso malandro ou vagabundo do folclore brasileiro, que também<br />

transforma a <strong>de</strong>sventura em ventura e a <strong>de</strong>sgraça pessoal em graça.<br />

Estar entre, permanecer em posições <strong>de</strong> limite, sem querer escolher entre<br />

a esquerda e a direita ou o fora e o <strong>de</strong>ntro é, também, <strong>de</strong>scubro, a marca <strong>de</strong><br />

alguns dos mais famosos personagens <strong>de</strong> Alencar, Machado <strong>de</strong> Assis e Guimarães<br />

Rosa.<br />

Mas foi em meu encontro com Dona Flor e seus dois maridos que percebi a<br />

profundida<strong>de</strong> da fenomenologia das relações <strong>de</strong> <strong>Amado</strong> e tive um vislumbre<br />

essencial sobre o funcionamento do Brasil. Pois aqui tínhamos, pela primeira<br />

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