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Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras

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Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke<br />

dois “fatos” importantes: o primeiro, o papel essencial <strong>de</strong>sempenhado pelo<br />

negro no <strong>de</strong>senvolvimento das culturas americanas; e o segundo, que esse papel<br />

essencial po<strong>de</strong>ria ser igualmente <strong>de</strong>sempenhado em prol da segurança <strong>de</strong><br />

toda a América, então ameaçada por regimes totalitários europeus.<br />

Em suma, as obras <strong>de</strong> Freyre – que eram <strong>de</strong>scritas nos <strong>de</strong>bates na Câmara dos<br />

Representantes como “trabalhos monumentais” que <strong>de</strong>viam ser traduzidos com<br />

urgência – po<strong>de</strong>riam ajudar os americanos a perceber que os Estados Unidos não<br />

podiam esperar “pela <strong>de</strong>struição do Nazismo no Velho Mundo enquanto retivesse<br />

o preconceito racial no Novo Mundo”. Com o trabalho <strong>de</strong> Freyre os congressistas<br />

apren<strong>de</strong>ram que “os americanos têm muito o que apren<strong>de</strong>r a respeito <strong>de</strong><br />

como raças e culturas diversas po<strong>de</strong>m viver juntas em harmonia e contribuir em<br />

conjunto para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma nova civilização...”. Foi esse o contexto<br />

da primeira tradução <strong>de</strong> Casa Gran<strong>de</strong>, publicada, enfim, em 1946, pelo editor progressista<br />

Alfred Knopf, que também publicou tradução <strong>de</strong> <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong>.<br />

Os romances <strong>de</strong> <strong>Amado</strong>, como se tem sugerido com frequência, po<strong>de</strong>m ser<br />

vistos como uma tradução para a ficção dos temas centrais <strong>de</strong> Casa Gran<strong>de</strong>, em<br />

especial quatro <strong>de</strong>les: tradições afro-americanas, sexo, gênero e miscigenação.<br />

E se a miscigenação, como muitas vezes se tem argumentado, é o tema-chave<br />

nos romances <strong>de</strong> <strong>Amado</strong> (um tema que aumenta <strong>de</strong> importância ao longo<br />

<strong>de</strong> sua trajetória), então há que se concordar com aqueles que sustentam<br />

que <strong>Amado</strong> foi “o melhor popularizador das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Freyre”. 21 Ao que<br />

Freyre acrescentaria que suas i<strong>de</strong>ias ganhavam nova dimensão nos romances <strong>de</strong><br />

<strong>Amado</strong>. “Feliz é o país que tem romancistas como <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong>, ou William<br />

Faulkner, nos Estados Unidos”, pois eles são capazes <strong>de</strong> revelar aspectos do<br />

drama social e humano que os melhores sociólogos, antropólogos e historiadores<br />

não conseguem. 22<br />

O crítico norte-americano Frank Tannenbaum disse, uma vez, que Gabriela,<br />

cravo e canela, um dos romances <strong>de</strong> maior êxito <strong>de</strong> <strong>Amado</strong>, não po<strong>de</strong>ria ter sido<br />

escrito antes da Casa Gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> Freyre. De fato, como Freyre, <strong>Amado</strong> tinha um<br />

21 Joan R. Dassin; Calixto, Goldstein, entre muitos outros.<br />

22 G. Freyre, “Um tema para <strong>Jorge</strong> <strong>Amado</strong>”, 1959.<br />

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