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Dossiê Jorge Amado - Academia Brasileira de Letras

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Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke<br />

Afro-Brasileiro por ele organizado em Recife, em 1934 – e no qual <strong>Jorge</strong><br />

<strong>Amado</strong> fez uma comunicação sobre tradições afro-americanas –, alguns críticos<br />

<strong>de</strong>screveram o congresso como “bolshevista” e exigiram que fosse fechado.<br />

Por conta do elogio aberto à miscigenação, as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Freyre foram então<br />

rejeitadas como “uma nova forma <strong>de</strong> racismo: o racismo mulato” – crítica<br />

ouvida ainda hoje.<br />

Há que se acrescentar que, longe <strong>de</strong> ser idílico, o retrato que Freyre apresenta<br />

do Brasil era, em si, uma mistura <strong>de</strong> elementos positivos e negativos – a<br />

bem da verda<strong>de</strong>, esse era um modo bastante apropriado para um <strong>de</strong>fensor da<br />

miscigenação <strong>de</strong>monstrar sua visão <strong>de</strong> que a multiplicida<strong>de</strong> e a inevitável impureza<br />

permeiam a condição humana. Seguindo a mesma linha, Freyre sugere<br />

que a história não po<strong>de</strong> ser vista em branco e preto, em polarida<strong>de</strong>s rígidas,<br />

com heróis e vilões absolutos em seus registros. Os homens, diria Freyre em<br />

certo momento, não são “isso nem aquilo”, mas sim “isso e aquilo”: muitos<br />

são mestiços “não apenas em raça, mas também em sexo, não apenas em i<strong>de</strong>ias<br />

mas também em seus sentimentos”. Portanto, se abordamos o humano e o<br />

social com critérios absolutos, afirmava ele, imediatamente aparece um obstáculo<br />

a nosso entendimento. A Sociologia, por exemplo, não po<strong>de</strong> ser pura,<br />

argumentava ele, já que as complexida<strong>de</strong>s e contradições que abundam nas socieda<strong>de</strong>s,<br />

suas dimensões dionisíaca e apolínea, exigem um tipo <strong>de</strong> Sociologia<br />

que é “mista e anfíbia”.<br />

Como bem coloca um crítico, “um tom escatológico... unifica” Casa Gran<strong>de</strong>.<br />

O autor “se <strong>de</strong>leita na impureza por todo o ensaio, <strong>de</strong>monstrando que<br />

não havia casta pura ou superior na colonização do Brasil, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

sua tese <strong>de</strong> que todos os brasileiros partilham uma herança cultural mestiça.<br />

As questões que se reiteram digressivamente ao longo do ensaio são ´quem<br />

corrompeu quem primeiro´, ´quem sifilizou quem´, ´quem era mais doente e<br />

mais sujo: o português, o africano ou os índios’.” 19<br />

Ao discutir a mistura <strong>de</strong> raças, por exemplo, Freyre não nega que nela estivessem<br />

envolvidos o sadismo e o masoquismo – mas, apesar disso, como em uma<br />

19 D. Borges, p. 59.<br />

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