Livro Historia_ORL em Portugal.pdf - Repositório do Hospital Prof ...
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FigurA 169<br />
ALMOÇO OFERECIDO AO DR. ALBERTO MENDONÇA PELOS MÉDICOS DO H. S. JOSÉ NO RESTAURANTE TAVARES, EM 3 DE MAIO DE 1939<br />
trabalhos que nessas publicações ocupariam lugar de destaque.<br />
Não concordava, sinceramente, que assim fosse, pois<br />
considerava banais os primores <strong>do</strong> seu saber. A sua modéstia<br />
era tão marcada que mais tarde tive dificuldade <strong>em</strong> conseguir<br />
que aceitasse a sua eleição para Sócio Honorário <strong>do</strong><br />
Collegium Oto-Rhino-Laryngologicum. Também não foi<br />
fácil convencê-lo a que fosse o Presidente de Honra <strong>do</strong> Congresso<br />
da Sociedade Latina de Otorrinolaringologia que se<br />
realizou <strong>em</strong> Lisboa <strong>em</strong> 1954.<br />
O que o Dr. Alberto de Men<strong>do</strong>nça poderia ter publica<strong>do</strong>, se a<br />
isso se dispusesse, <strong>do</strong>cumenta-o a monografia intitulada<br />
“Acerca <strong>do</strong> exame da função vestibular” publicada <strong>em</strong> 1922,<br />
no primeiro volume <strong>do</strong> Arquivo de Medicina Legal. É um estu<strong>do</strong>,<br />
exaustivo para a época, <strong>do</strong> probl<strong>em</strong>a, que teve notável<br />
projecção internacional nos meios que se dedicavam a essas<br />
investigações.<br />
Com o Dr. Manuel Pinto, auxiliei-o nas suas investigações,e<br />
o trabalho suscitou-nos grande interesse pela sua novidade<br />
e dificuldade. O Dr. Alberto de Men<strong>do</strong>nça, calmo, impassível,<br />
via o nosso entusiasmo (com um leve sorriso de satisfação<br />
e, por vezes, ligeiramente irónico).<br />
Ainda hoje recor<strong>do</strong> com saudade aquelas manhãs no <strong>Hospital</strong><br />
da Estrela, <strong>em</strong> que discutíamos os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, a sua<br />
interpretação e o seu significa<strong>do</strong>. Era o trabalho de investigação<br />
<strong>em</strong> toda a sua pureza, horas que compensavam de outras<br />
menos agradáveis que a vida, inevitavelmente, nos traz.<br />
O Dr. Alberto de Men<strong>do</strong>nça foi um brilhante representante<br />
duma escola de Otorrinolaringologia que começou a modificar-se<br />
depois da primeira guerra mundial. A Cirurgia da Especialidade,<br />
como a Cirurgia Geral de então, era uma cirurgia<br />
A OtOrrinOlAringOlOgiA Em pOrtugAl<br />
de exérese, cuja técnica tinha chega<strong>do</strong> a uma perfeição tal<br />
que a maioria <strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res não julgava ser possível realizar<br />
mais progressos de monta. No entanto, to<strong>do</strong> o panorama<br />
cirúrgico iria modificar-se radicalmente, inician<strong>do</strong>-se a<br />
Cirurgia Fisiológica, procuran<strong>do</strong>-se extirpar o mal s<strong>em</strong> comprometer<br />
a função.<br />
A Otorrinolaringologia, que alberga nos seus <strong>do</strong>mínios três <strong>do</strong>s<br />
nossos senti<strong>do</strong>s, não podia ficar à marg<strong>em</strong> desta evolução.<br />
O Dr. Alberto Luís de Men<strong>do</strong>nça tinha a intuição da nova cirurgia<br />
a nascer <strong>em</strong> breve, cirurgia menos agressiva e mais<br />
lenta, preocupada <strong>em</strong> poupar ou restabelecer a função <strong>do</strong><br />
órgão sobre o qual se intervém. O Dr. Alberto de Men<strong>do</strong>nça,<br />
pela leveza das suas mãos, a delicadeza e a minúcia <strong>do</strong>s<br />
t<strong>em</strong>pos operatórios, já se diferenciava <strong>do</strong>s opera<strong>do</strong>res da sua<br />
geração que supunham ter atingi<strong>do</strong> os limites da perfeição<br />
pela exérese rápida e completa.<br />
Mas o Dr. Alberto de Men<strong>do</strong>nça não era só um grande opera<strong>do</strong>r;<br />
era igualmente um clínico modelar. Antes de intervir,<br />
procurava estabelecer um diagnóstico correcto. Nunca o vi<br />
contentar-se com um diagnóstico de oportunidade operatória.<br />
Procurava s<strong>em</strong>pre identificar a <strong>do</strong>ença, estabelecer a<br />
natureza e a extensão das lesões. Era, <strong>em</strong> resumo, um Cirurgião<br />
especializa<strong>do</strong> e não somente um hábil opera<strong>do</strong>r.<br />
O Hom<strong>em</strong>, como já disse, era sóbrio de expressão, por vezes ríspi<strong>do</strong><br />
no trato, mas, sob esta aparência um pouco áspera abrigava-se<br />
um coração de ouro, totalmente devota<strong>do</strong> aos seus<br />
<strong>do</strong>entes. Estes eram a sua preocupação principal e eras-lhe dedicadíssimo.<br />
Tu<strong>do</strong> porém sob uma aparência sóbria de manifestações,<br />
que mais não era, afinal, <strong>do</strong> que o pu<strong>do</strong>r de mostrar<br />
a sua afectividade.<br />
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