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Livro Historia_ORL em Portugal.pdf - Repositório do Hospital Prof ...

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72<br />

A MEDICINA NO SÉCULO XIX<br />

Termina o artigo dizen<strong>do</strong>:<br />

“Parabéns aos portugueses que para se ver<strong>em</strong> alivia<strong>do</strong>s das<br />

suas <strong>do</strong>enças e deformidades, já não precisam de ir Além-<br />

-mar ou Além-Pirinéus, ao pé da casa, t<strong>em</strong> cirurgiões tão peritos<br />

como na Londres Nevoenta e na Inconstante Paris. Um<br />

indivíduo, conhec<strong>em</strong>os nós que, há pouco t<strong>em</strong>po foi, para<br />

se alindar <strong>do</strong> lábio superior às margens <strong>do</strong> Tamisa, provavelmente<br />

foi algum cirurgião Lorde, o que lhe coseu o beiço.<br />

Aqui no Porto, foi noutro dia praticada esta operação por<br />

um cirurgião noviço, que havia poucos meses tinha acaba<strong>do</strong><br />

os seus estu<strong>do</strong>s na Escola Médico- Cirúrgica desta cidade. E<br />

<strong>em</strong> qual <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes ficaria mais perfeita e igual aderência?<br />

Julgaria que seria na operada pelo Lorde? - Enganai-vos.”<br />

Estávamos <strong>em</strong> 1843!<br />

No Nº 17 da GaZETa MÉDica DO PORTO, de 20 de Março<br />

de 1843, apareceu outro artigo, desta vez de MANOEL<br />

LEITE DE PINHO CORREIA, sobre Rinoplastias, <strong>em</strong> que o<br />

autor faz a descrição histórica da cirurgia e coloca um desenho<br />

esqu<strong>em</strong>ático da cirurgia.<br />

Em 1853, na GaZETa MÉDica DE LiSBOa, leio, feita pelo<br />

Dr. CUNHA VIANA, a descrição dum caso duma operação<br />

de traqueotomia. Essa descrição dizia o seguinte:<br />

“OPERAÇÃO DE TRACHEOTOMIA NO CRUPP, (GARROTI-<br />

LHO)” pelo Sr. A. M. BARBOSA.<br />

“No dia 7 <strong>do</strong> corrente, pelas 5 horas da tarde, foi praticada a<br />

tracheotomia pelo Sr. A. M. Barbosa, no <strong>Hospital</strong> da misericordia<br />

de Lisboa, <strong>em</strong> uma criança de 9 meses de idade a<br />

qu<strong>em</strong> o Sr. Dr. Simas, médico daquele estabelecimento, tinha<br />

diagnostica<strong>do</strong> o croup pela manhã, e algumas horas depois<br />

indicava a operação da tracheotomia, e convidava o Sr. António<br />

Manuel Barbosa para a praticar, estan<strong>do</strong> também presente<br />

o Sr. Arantes. O esta<strong>do</strong> da <strong>do</strong>entinha era o seguinte:<br />

Voz extincta - extr<strong>em</strong>idades frias - congestão da face - pulso<br />

frequentissimo e apenas sensível ao rui<strong>do</strong> aspero da larynge<br />

- respiração ab<strong>do</strong>minal. A morte era infalivel, <strong>em</strong> poucos momentos,<br />

se não se fizesse a operação.<br />

O Sr. Barbosa praticou-a com summa destreza, e introduzin<strong>do</strong><br />

a canula na larynge, a <strong>do</strong>entinha começou logo a respirar com<br />

mais facilidade, bebeu liqui<strong>do</strong>s <strong>em</strong> grande quantidade, e<br />

mamou com muita avidez. Conservava-se sentada na cama,<br />

parecen<strong>do</strong> alegre e pouca aflicta, chegou a dar esperanças de<br />

que se curaria.<br />

Desgraçadamente os resulta<strong>do</strong>s não corresponderam às esperanças,<br />

que se tinham fica<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista <strong>do</strong> b<strong>em</strong> que correra<br />

a operação. No dia 11 pelas duas horas da manhã falleceu a<br />

nossa <strong>do</strong>entinha por asphyxia, ten<strong>do</strong> havi<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os signaes<br />

de que as falsas m<strong>em</strong>branas se tinham propaga<strong>do</strong><br />

pelos bronchios.<br />

A necropse, feita no, dia seguinte, mostrou a larynge toda<br />

coberta de falsas m<strong>em</strong>branas delgadas, que se estendiam<br />

ás mais pequenas ramificações bronchiaes. Havia, além<br />

disto inflamação lobular na base <strong>do</strong> pulmao esquer<strong>do</strong>.<br />

Apesar de se não ter salva<strong>do</strong> esta creança, é mais um caso,<br />

que deve ficar regista<strong>do</strong>, porque as 57 horas, que ella sobreviveu<br />

á morte iminente, a que estava próxima, - dev<strong>em</strong> animar<br />

o pratico a recorrer á operação da tracheotomia nesta<br />

moléstia tão mortífera.<br />

É esta a primeira operação desta ord<strong>em</strong>, que o Sr. Barbosa<br />

pratica, e com quanto não o tivesse o resulta<strong>do</strong>, que deva esperar,<br />

há-encontrar mais tarde na sua clínica alguns casos<br />

felizes, que o ind<strong>em</strong>nis<strong>em</strong> <strong>do</strong> trabalho e cuida<strong>do</strong>s, que agora<br />

inftuctuosamente teve.<br />

É a 6ª operação de tracheotomía, <strong>em</strong> caso de Crup que há<br />

noticia, de que se tenha feito <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong>; as outras cinco<br />

foram praticadas de há <strong>do</strong>is annos para cá pelo Sr. JOAQUIM<br />

THEOTÓNIO DA SILVA, das quaes as quatro primeiras foram<br />

mal succedidas, sen<strong>do</strong> a curada uma <strong>do</strong>entinha pertencente<br />

também ao Sr. Dr. Simas que no jornal da sociedade de<br />

Sciências Médicas de Lisboa nos deu já conhecimento da sua<br />

historia, tratamento e operação. A <strong>do</strong>entinha <strong>do</strong> Sr. Barbosa<br />

foi vista pelos Sr. Beirão, Pereira Mendes Teixeira etc.”<br />

Esta cirurgia foi realizada pelo DR. ANTÓNIO MARIA BAR-<br />

BOSA, um <strong>do</strong>s nossos mais brilhantes cirurgiões <strong>do</strong> século<br />

XIX. Foi o primeiro <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> a realizar uma ovariotomia,<br />

o primeiro a experimentar a eterização, e a extirpar<br />

um tumor h<strong>em</strong>orroidal com o esmaga<strong>do</strong>r de Chassaignac.<br />

A primeira anestesia com Éter, <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong>, deveu-se ao<br />

então estudante de Medicina, António Maria Barbosa,<br />

que consentiu <strong>em</strong> ser ele próprio anestesia<strong>do</strong>. Num artigo<br />

publica<strong>do</strong> no JORNAL DA SOCIEDADE PHARMA-<br />

CEUTICA LUSITANA, vol. IV, página 604, descreve, com<br />

grande minúcia, todas as sensações e esta<strong>do</strong>s por que<br />

passou ao inalar o “Ether Sulfurico”, sob a direcção <strong>do</strong> Sr.<br />

Barral, pelo aparelho fabrica<strong>do</strong> pela <strong>em</strong>presa Walters and<br />

Company, de Londres.<br />

Foi também o primeiro a utilizar o hidrato de cloral, como<br />

calmante, e a tratar a difteria com insuflações pela flor de<br />

enxofre lava<strong>do</strong>.<br />

No Jornal da Sociedade de Ciências Médicas de 1860, na<br />

página 98, encontro um artigo de A. M. Barbosa com o título<br />

“RESSECÇÃO DO MAXILAR INFERIOR EM UM CASO DE<br />

CANCRO DO OSSO” que refere o seguinte:<br />

“Damos apenas uma noticia sucinta desta operação, que<br />

acaba de ser magistralmente praticada nos quartos particulares<br />

<strong>do</strong> <strong>Hospital</strong> de S. José pelo nosso distinto colega e<br />

prezadíssimo amigo, o Sr. Magalhães Coutinho, não sab<strong>em</strong>os<br />

de outro caso de ressecção <strong>do</strong> maxilar inferior, senão <strong>do</strong><br />

que operou há anos o nosso sábio e Mestre, o Sr. Lourenço<br />

da Luz.”<br />

Segue-se a descrição da cirurgia de forma bastante exaustiva<br />

e a conclusão:<br />

“A disecção da peça anatómica que foi estudada ao microscópio<br />

pelo Sr. Dr. May Figueira, confirmou o diagnóstico da<br />

<strong>do</strong>ença e a sua sede primitiva no osso.”

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