Livro Historia_ORL em Portugal.pdf - Repositório do Hospital Prof ...
Livro Historia_ORL em Portugal.pdf - Repositório do Hospital Prof ...
Livro Historia_ORL em Portugal.pdf - Repositório do Hospital Prof ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
FIGURA 9<br />
a REcOMPiLaÇÃO DE ciRURGia DE anTÓniO Da cRUZ cOnSTiTUi O PRiMEiRO<br />
TRaTaDO DE ciRURGia iMPRESSO EM PORTUGaL EM 1601 E TEVE PELO MEnOS<br />
OiTO REEDiÇÕES aTÉ 1711<br />
capítulo 3 - Trata de alguns erros de Vesálio sobre a<br />
Anatomia <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>;<br />
capítulo 4 - Exposição sobre a conformação óssea <strong>do</strong><br />
ouvi<strong>do</strong>;<br />
capítulo 12 - Era sobre o facto de Galeno julgar poder<br />
haver movimentos <strong>do</strong>s músculos da língua s<strong>em</strong> a participação<br />
<strong>do</strong>s nervos, e quais eram esses movimentos.<br />
No <strong>Livro</strong> II, igualmente exist<strong>em</strong> alguns Capítulos sobre<br />
a área de Otorrinolaringologia, são eles:<br />
capítulo 8 - Aparelho da olfacção - se o movimento <strong>do</strong><br />
cérebro é natural ou voluntário, e finalmente;<br />
capítulo 10 - Se os nervos auditivos vão à grande cavidade<br />
<strong>do</strong> osso petroso.<br />
A apreciação de Serrano a esta obra, encontro-a no seu<br />
Trata<strong>do</strong> de Osteologia Humana de 1897:<br />
“O Exame desta obra revela-nos predica<strong>do</strong>s de alta valia -<br />
segurança no dizer, s<strong>em</strong> refolhos - campânulas da velha escolástica,<br />
Sobriedade a citar os autores cuja crítica se impõe,<br />
e acima de tu<strong>do</strong> imparcialidade e independência” - Conclui<br />
Serrano: “Pode afoitamente ter-se por certo que Affonso de<br />
Guevara, foi Hom<strong>em</strong> Superior no ramo que exercitou”.<br />
Dos outros Cirurgiões que ensinavam no <strong>Hospital</strong> de<br />
To<strong>do</strong>s os Santos, um <strong>do</strong>s mais notáveis foi ANTÓNIO DA<br />
CRUZ, nomea<strong>do</strong> para a vaga devi<strong>do</strong> à morte de JOÃO<br />
DIAS, <strong>em</strong> 1579. António da Cruz, nasceu <strong>em</strong> Lisboa, estu-<br />
A OTORRINOLARINGOLOGIA EM PORTUGAL 29<br />
<strong>do</strong>u <strong>em</strong> Coimbra e no <strong>Hospital</strong> de Guadalupe, e teve carta<br />
de Habilitação como Cirurgião, passada <strong>em</strong> Lisboa <strong>em</strong> 6<br />
de Agosto de 1568.<br />
Deixou-nos um <strong>Livro</strong> intitula<strong>do</strong> “RECOMPILAÇÃO DA CI-<br />
RURGIA, COMPOSTO PELO LICENCIADO ANTÓNIO DA<br />
CRUZ, CIRURGIÃO DE EL-REI E DO SEU HOSPITAL DE TODOS<br />
OS SANTOS”.<br />
A primeira Edição foi <strong>em</strong> 1601, e há conhecimento de uma<br />
oitava Edição <strong>em</strong> 1711, já após a sua morte que ocorreu<br />
<strong>em</strong> 1626. Durante muitos anos, esta obra constituiu o<br />
<strong>Livro</strong> de Texto das aulas de Anatomia e de Cirurgia.<br />
Na análise que faz à obra de António da Cruz, Serrano<br />
considera que o Trata<strong>do</strong> pode ser dividi<strong>do</strong> na parte Cirúrgica,<br />
que considera bastante interessante, e a parte sobre<br />
Anatomia, que considera menos inova<strong>do</strong>ra e nalguns<br />
casos incompleta.<br />
Em relação à Otorrinolaringologia encontro referências<br />
no terceiro Capítulo que se intitula “Da Anatomia <strong>do</strong> Rosto<br />
e suas Partes”, refere: “que o nariz foi feito para instrumento<br />
<strong>do</strong> cheirar, e para por ele entrar o ar da respiração para os<br />
bofes e também para purgar por ele, as superfluidades grossas<br />
<strong>do</strong> cérebro, e para a formosura <strong>do</strong> rosto”.<br />
Acerca das orelhas refere: “As orelhas são feitas de cartilag<strong>em</strong><br />
e estão postas sobre os ossos petrosos, e foram feitas<br />
para instrumento de ouvir, e não há nelas bicho, como o<br />
povo diz, mas a cada ouvi<strong>do</strong> vai um nervo que nasce no cérebro,<br />
que é o quinto par, o qual chega<strong>do</strong> ao buraco <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong><br />
faz uma pele tecida de fios <strong>do</strong> mesmo nervo aonde dá<br />
o tom da voz e se faz o senti<strong>do</strong> de ouvir”.<br />
Fala da “língua, das veas Leónicas que ficam debaixo das<br />
fauces, da garganta <strong>do</strong> padar ou céu-da-boca (véu <strong>do</strong> paladar)”,<br />
das amígdalas e da campainha, diz que ao inchaço<br />
das amígdalas o povo chama aos <strong>do</strong>entes “os da boca caí<strong>do</strong>s”.<br />
Neste capítulo fala <strong>do</strong> osso hióide, mas descreve-o<br />
com erros próprios de qu<strong>em</strong> nunca o terá visto.<br />
O quarto capítulo intitula-se “DA ANATOMIA DO PESCOÇO<br />
E SUAS PARTES ESPALDAS E BRAÇOS”. Fala da “traca artéria,<br />
áspera artéria ou cana <strong>do</strong> bofe (traqueia e laringe) <strong>do</strong> izofago<br />
meu ou tragadeira e da epiglotis ou larinx” - dizen<strong>do</strong> que é<br />
um pedaço de cartilag<strong>em</strong> como uma colher que está sobre<br />
a boca da traca artéria, abaixo da campaínha, e a esse propósito<br />
explica a expressão popular - “deu-lhe no goto”.<br />
A REFORMA<br />
DA UNIVERSIDADE<br />
No Reina<strong>do</strong> de D. João III, a Universidade Portuguesa continuava<br />
<strong>em</strong> grande decadência, devi<strong>do</strong> a vícios antigos.<br />
Este Rei assumiu a iniciativa da reforma <strong>do</strong> mosteiro de<br />
Santa Cruz, realizada por FREI BRÁS DE BRAGA, que andara<br />
a estudar nas Universidades de Paris e de Lovaina.<br />
Em Santa Cruz vai-se fazer a primeira tentativa de criar,<br />
entre nós, uma instituição moderna de ensino.