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Livro Historia_ORL em Portugal.pdf - Repositório do Hospital Prof ...

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FigurA 246<br />

A EQUIPA DE BANCO DO DR. SILVA ALVES NO HOSPITAL DE S. JOSÉ EM 1939<br />

Nestas 470 Otites registaram-se 7 falecimentos, cujas causas<br />

foram:<br />

1 - por Otite média aguda, com mastoidite aguda;<br />

1 - por Otite média crónica tuberculosa;<br />

5 - por otite média crónica colesteatomatosa, sen<strong>do</strong> 1 por<br />

abcesso cerebral, 1 por tromboflebite <strong>do</strong> seio (lateral), com<br />

meningite aguda e 3 por trombo-flebite <strong>do</strong> seio lateral, com<br />

septicémia.<br />

É de realçar o ter havi<strong>do</strong> apenas um óbito nos 6 casos de abcessos<br />

encefálicos e isto na era pré-antibiótica. De facto no<br />

Serviço 8 <strong>do</strong>s Capuchos havia uma boa estatística operatória<br />

nessa patologia o que levava os Neurocirurgiões a transferir<br />

para o nosso Serviço, os <strong>do</strong>entes com abcessos otogéneos, admiti<strong>do</strong>s<br />

para Neurocirurgia. A técnica <strong>em</strong>pregada era baseada<br />

na de L<strong>em</strong>aitre, punção e drenag<strong>em</strong> progressivamente alargada<br />

para se obter a exclusão <strong>do</strong>s espaços subracnoideos.<br />

Analisan<strong>do</strong> a Cirurgia <strong>ORL</strong> de outrora, ocorre perguntar se<br />

era muito diversificada. Teoricamente sim, mas na prática,<br />

para se ser considera<strong>do</strong> um bom Especialista, era suficiente<br />

saber executar b<strong>em</strong>, meia dúzia de operações de grande cirurgia.<br />

Para fundamentar esta afirmação, direi o seguinte:<br />

estava eu no início <strong>do</strong> meu Internato da Especialidade e teve<br />

honras de comunicação à Sociedade de Ciências Médicas, a<br />

primeira laringectomia efectuada por um <strong>do</strong>s mais ilustres<br />

otorrinolaringologistas portugueses, Director <strong>do</strong> Serviço e<br />

<strong>Prof</strong>essor da Faculdade de Medicina de Lisboa. Decorri<strong>do</strong>s<br />

cerca de 30 anos, nesse mesmo Serviço podia ver-se, por<br />

vezes, Internos da Especialidade fazer essa operação...<br />

Na cirurgia <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> ocupava lugar cimeiro as amigdalectomias,<br />

cirurgia <strong>do</strong> septo nasal e seios perinasais e especialmente<br />

a cirurgia <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>, mastoidectomias e<br />

esvaziamentos petro-mastoideios, dada abundância de<br />

otites médias supuradas, simples ou complicadas.<br />

Como se realizava essa cirurgia? Em más condições, pois não<br />

havia aspira<strong>do</strong>res, a iluminação era a indirecta e durante os<br />

meus 5 a 6 anos de Internato <strong>em</strong> S. José, nunca lá vi fazer<br />

uma anestesia geral. E no entanto nesse Serviço fazia-se<br />

FigurA 247<br />

A OtOrrinOlAringOlOgiA Em pOrtugAl<br />

O DR. SILVA ALVES ENQUANTO ESTUDANTE DE ANATOMIA NO PORTO EM 1929<br />

toda a cirurgia da Especialidade, desde as amigdalectomias<br />

até às laringectomias e ressecções <strong>do</strong> maxilar superior.<br />

As amigdalectomias eram <strong>em</strong> grande número, mas b<strong>em</strong><br />

longe “massacre” das amígdalas <strong>do</strong>s anos 70... Nos adultos,<br />

a operação era feita com anestesia local pela Novocaína<br />

adrenalinada a 0,5%, mas as crianças eram operadas com<br />

“na<strong>do</strong>caína” como se dizia <strong>em</strong> gíria. Era confrange<strong>do</strong>r o espectáculo<br />

de ver, <strong>em</strong> exíguas instalações, 8 e 10 crianças a<br />

chorar, umas operadas e outras com me<strong>do</strong> de o ser... No<br />

Porto, nessa época, o Dr. Jaime de Magalhães utilizava, na<br />

amigdalectomia das crianças, o clorofórmio - anestesia, da<br />

minha particular antipatia e que nunca <strong>em</strong>preguei.<br />

A cirurgia <strong>do</strong> nariz, seios perinasais e ouvi<strong>do</strong>s, era realizada<br />

com anestesia local por infiltração ou <strong>em</strong>bebição, muitas<br />

vezes associada à injecção de morfina. Nos esvaziamentos<br />

petro-mastoideios quan<strong>do</strong> se atingia a caixa <strong>do</strong> tímpano colocava-se<br />

aí um tampão <strong>em</strong>bebi<strong>do</strong> <strong>em</strong> solução de cocaína.<br />

O material utiliza<strong>do</strong> era o clássico: escopro, goiva e martelo,<br />

b<strong>em</strong> como colher de raspag<strong>em</strong>. Claro está que muitas vezes<br />

era necessário mais um ajudante, para tentar segurar a cabeça<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, por causa das marteladas.<br />

A cirurgia larga da Especialidade, executada com anestesia<br />

local, tinha, por vezes aspectos dramáticos. Imagin<strong>em</strong> operar<br />

um fibroma naso-faríngeo, s<strong>em</strong> anestesia geral e s<strong>em</strong> aspiração<br />

ou fazer nas mesmas condições a extracção dum<br />

corpo estranho <strong>do</strong>s brônquios e neste caso nas crianças, por<br />

vezes, não se fazia qualquer anestesia...<br />

Eu ajudava s<strong>em</strong>pre o Alberto Men<strong>do</strong>nça e nunca mais esqueci<br />

a primeira ressecção <strong>do</strong> maxilar superior que vi fazer. O <strong>do</strong>ente<br />

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