18.04.2013 Views

Livro Historia_ORL em Portugal.pdf - Repositório do Hospital Prof ...

Livro Historia_ORL em Portugal.pdf - Repositório do Hospital Prof ...

Livro Historia_ORL em Portugal.pdf - Repositório do Hospital Prof ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Os progressos médicos são de tal forma palpáveis, clarividentes,<br />

assombrosos e extraordinários que, a morte, é o<br />

termo natural <strong>do</strong> isolamento.<br />

Sociedades, agrupamentos, congressos, imprensa, conferências<br />

- principalmente médicas - são janelas rasgadas para<br />

o acanha<strong>do</strong> e raro mun<strong>do</strong>, <strong>do</strong> clínico, que vive ou vegeta por<br />

esse país fora, aman<strong>do</strong> e sofren<strong>do</strong> <strong>em</strong> prol <strong>do</strong>s seus pobres<br />

<strong>do</strong>entes.<br />

É proposição evidente que to<strong>do</strong> o hom<strong>em</strong> t<strong>em</strong> de viver <strong>em</strong><br />

sociedade; o médico, portanto, não pode isolar-se <strong>do</strong>s homens<br />

e principalmente <strong>do</strong>s outros médicos. Como poderia<br />

apaixonar-se por casos que nunca viu ou tratou como havia<br />

de resolver to<strong>do</strong>s os probl<strong>em</strong>as s<strong>em</strong> o conselho, a indicação,<br />

o apoio, e a sapiência <strong>do</strong>s maiores?<br />

A <strong>do</strong>ença, é inegável, na sua forma clínica, não é imutável,<br />

sofre transformações.<br />

Essas variações ou transformações, ating<strong>em</strong> no momento<br />

actual <strong>em</strong> plena era antibiótica, as mais extraordinárias mutações.<br />

To<strong>do</strong>s nós sab<strong>em</strong>os por ex<strong>em</strong>plo, que a pneumonia<br />

franca lobar quase desapareceu da prática jornaleira; a mastoidite<br />

aguda é uma raridade, a tuberculose laríngea vai<br />

apressadamente a caminho <strong>do</strong>s arquivos, utópico, estulto e<br />

pernicioso, portanto, é o isolamento <strong>do</strong>s homens, <strong>do</strong>s amigos,<br />

<strong>do</strong>s colegas.<br />

Por isso a nossa sociedade é realista, sábia, progressiva e encontra-se<br />

ao serviço de to<strong>do</strong>s aqueles que amam e serv<strong>em</strong><br />

este ideal.<br />

Cada um de nós, com brilhante archote ou pequeno luzeiro,<br />

prégan<strong>do</strong> o trabalho, a dedicação e o entusiasmo - to<strong>do</strong>s a<br />

contribuir para o prestígio da Sociedade.<br />

Será um movimento <strong>em</strong> labareda, uma generosa, afectiva e<br />

altruista cruzada, a b<strong>em</strong> <strong>do</strong>s <strong>do</strong>entes, a b<strong>em</strong> <strong>do</strong> País. Porta<strong>do</strong>res,<br />

cada um de nós, da mesma chama, reunimo-nos de<br />

vez <strong>em</strong> quan<strong>do</strong> para recebermos baforadas de ar fresco <strong>em</strong><br />

nossos pulmões satura<strong>do</strong>s de rotina, de maledicência e<br />

mesmo de autolatria. S<strong>em</strong> estas indispensáveis reuniões periódicas,<br />

como ver e aprender, como educar os senti<strong>do</strong>s e disciplinar<br />

a vontade, como fugir ao confrange<strong>do</strong>r isolamento<br />

<strong>em</strong> que, normalmente, viv<strong>em</strong>os?!<br />

É legítima a ambição da nossa Sociedade <strong>em</strong> nos aglutinar<br />

de uma poderosa contribuição e expansão da cultura médica<br />

especialmente no ramo que professamos.<br />

Trata-se de uma Sociedade natural e humana e, por conseguinte,<br />

não pode n<strong>em</strong> deve endeusar-se, não tolera a afectação<br />

e o pedantismo, repele o farisaísmo e, <strong>em</strong> oposição, só<br />

considera e respeita os melhores, isto é, os mais sábios e os<br />

mais dignamente humanos.<br />

Também a Sociedade não critica por derrotismo, não louva<br />

por subserviência, não intervém na discussão de um assunto<br />

que ignora. Cultiva o saber, o aprumo profissional e a amizade<br />

entre os sócios.<br />

Não foi acidentalmente, n<strong>em</strong> por acaso, que a Sociedade<br />

surgiu, impôs-se como urgente necessidade e, tanto assim,<br />

que v<strong>em</strong> crescen<strong>do</strong>, num entusiasmo juvenil, por velhos e<br />

A OtOrrinOlAringOlOgiA Em pOrtugAl<br />

novos, das grandes e pequenas regiões, de perto e de longe,<br />

no ardente desejo de algo ensinar e, de algo também aprender;<br />

une, ensina, vulgariza; é científica e lúcida; t<strong>em</strong> bom<br />

senso, não foi criada por um, mas por vários e nela (Sociedade)<br />

pod<strong>em</strong> entrar os de boa vontade; é uma construção<br />

<strong>em</strong> que to<strong>do</strong>s e cada um têm uma pedra e um assento. Os<br />

sócios norteam-se por um alto ideal, diminuir ou extinguir o<br />

sofrimento <strong>do</strong> próximo, <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente. Orienta-nos para o rigor<br />

científico e defende-nos da cristalização; cria uma elite.<br />

Antes e depois <strong>do</strong> Séc. de Péricles, na velha Grécia, houve gloriosa<br />

e r<strong>em</strong>ota Atenas, escolas <strong>em</strong> que a discussão era livre,<br />

<strong>em</strong> que a crítica era apreciada; alguns filósofos eram médicos<br />

e to<strong>do</strong>s os médicos tinham uma cultura filosófica e, por<br />

vezes, eram ainda humanistas!<br />

A Medicina <strong>em</strong>ancipa-se. Deixa de ser crendice, superstição,<br />

me<strong>do</strong> e passa a ser uma ciência e uma arte.<br />

Hipócrates, de Cós, o “Divino” foi mestre de Medicina e criou<br />

discípulos teóricos, cientistas e artistas - <strong>em</strong> sociedade de<br />

professor e alunos.<br />

Um outro grego, quiçá menos brilhante, Galeno, com princípios,<br />

teses ou actuações um pouco diferentes ou mesmo<br />

de divergentes concepções, cria a sua Escola, a sua Sociedade.<br />

Qualquer destes grandes, deslocam-se, ensinam, medicam,<br />

procuram acertar... e não se entronizam nas suas torres de<br />

marfim, não se isolam.<br />

E foi s<strong>em</strong>pre assim até nossos dias.<br />

Roberto Koch, um anónimo ou desconheci<strong>do</strong> sai da sua aldeia,<br />

encosta<strong>do</strong> ao seu bordão, a caminho de Breslau, com<br />

as suas bactérias, e mais adiante até Berlim, onde já pontificava<br />

Vinchow. Em 24 de Março de 1882, <strong>em</strong> um dia <strong>do</strong>entio<br />

e chuvoso, no começo de uma Primavera triste, <strong>em</strong> uma sociedade<br />

médica legou directamente à assistência, este pobre<br />

aldeão, uma das maiores revelações de to<strong>do</strong>s os t<strong>em</strong>pos a<br />

descoberta <strong>do</strong> bacilo que havia de imortalizar o seu nome.<br />

Claude Bernard populariza a Medicina experimental. Na<br />

Acad<strong>em</strong>ia de Ciências, na Acad<strong>em</strong>ia de Medicina, e na Sociedade<br />

Biológica, deixa um rasto <strong>do</strong> seu fulgor e <strong>do</strong> seu extraordinário<br />

labor. Reúne-se s<strong>em</strong>analmente com Renam e<br />

Bertholet, trocan<strong>do</strong> impressões e corrigin<strong>do</strong> defeitos. Ele<br />

sabe que a experiência é a mãe das ciências e das artes, recalcan<strong>do</strong><br />

para segun<strong>do</strong> plano a arte de b<strong>em</strong> observar, de<br />

meditar e de estudar. Não ama o isolamento...<br />

Virchow, lutou, escreveu, criou jornais e fun<strong>do</strong>u a Sociedade<br />

Al<strong>em</strong>ã de Antropologia.<br />

Lister frequenta assiduamente a Associação Inglesa de Medicina<br />

e apresenta-lhe o princípio da antissépsia.<br />

Deulafov, nos fins <strong>do</strong> último século, pontifica na Acad<strong>em</strong>ia<br />

Francesa.<br />

Foi também numa Acad<strong>em</strong>ia que Pasteur, corajosa e heroicamente,<br />

contra as objecções de alguns, o desdém de outros<br />

e a rotina da maioria, expõe as suas <strong>do</strong>utrinas, legan<strong>do</strong> à<br />

posteridade o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s infinitamente pequenos.<br />

169

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!