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Livro Historia_ORL em Portugal.pdf - Repositório do Hospital Prof ...

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8<br />

FIGURA 14<br />

aSSinaTURaS DE GaRcia DE ORTa<br />

Na Medicina Portuguesa <strong>do</strong> século XVI destaca-se um<br />

nome: JOÃO RODRIGUES DE CASTELO BRANCO (de qu<strong>em</strong><br />

já falei na 1º parte <strong>do</strong> <strong>Livro</strong>), conheci<strong>do</strong> como AMATO LU-<br />

SITANO. Nasceu <strong>em</strong> 1511, <strong>em</strong> Castelo Branco, filho de pais<br />

Judeus, estu<strong>do</strong>u Medicina na Universidade de Salamanca,<br />

ten<strong>do</strong> regressa<strong>do</strong> a <strong>Portugal</strong> <strong>em</strong> 1529, devi<strong>do</strong> às perseguições<br />

da Inquisição. Viajou para Antuérpia <strong>em</strong> 1534, e é<br />

aí que publica o seu primeiro <strong>Livro</strong> “IN DIOSCORIDIS”. Viajou<br />

por toda a Europa até se estabelecer <strong>em</strong> Ferrara, Itália,<br />

<strong>em</strong> 1541 onde foi <strong>Prof</strong>essor de Anatomia. É nesta cidade<br />

que inicia a escrita da primeira Centúria (C<strong>em</strong> casos clínicos),<br />

que dedica a COSME DE MÉDICIS. A instabilidade política<br />

e religiosa que então se vivia <strong>em</strong> Itália, levam-no<br />

para Roma onde foi Médico <strong>do</strong> Papa Júlio III. Finalmente<br />

busca refúgio no Império Otomano, primeiro <strong>em</strong> Ragusa<br />

e depois <strong>em</strong> Salónica, na Grécia, cidade onde escreveu a<br />

sua última Centúria e onde morreu <strong>em</strong> 1569 com 57 anos.<br />

As “CENTÚRIAS DAS CURAS MEDICINAIS” são, de entre as<br />

obras que escreveu, o seu maior lega<strong>do</strong> à Humanidade.<br />

Escreveu sete Centúrias <strong>em</strong> latim, e cada Centúria apresenta<br />

c<strong>em</strong> casos clínicos com a descrição pormenorizada<br />

<strong>do</strong> caso clínico, referin<strong>do</strong> a idade <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, a descrição<br />

da <strong>do</strong>ença e a terapêutica utilizada. Len<strong>do</strong> as Centúrias,<br />

conseguimos entrar, para além <strong>do</strong> aspecto médico, <strong>em</strong><br />

pleno século XVI, pois fala <strong>do</strong>s hábitos alimentares, da<br />

vida quotidiana etc. Conhec<strong>em</strong>-se pelo menos 59 traduções<br />

das Centúrias <strong>em</strong> diferentes línguas.<br />

Todas as centúrias são notáveis para o estu<strong>do</strong> da Medicina<br />

da época. O relato de cada uma das curas é acompanha<strong>do</strong><br />

no final, de comentários de Amato.<br />

As Centúrias relacionadas com a área de Otorrinolaringologia<br />

são as seguintes:<br />

Um Caso sobre Concreções <strong>do</strong> Nariz - Centúria VI, cura 1ª;<br />

Dois Casos sobre Vertig<strong>em</strong> - Centúria VI, curas 80ª e 81ª;<br />

Dois Casos sobre Surdez - Centúria VI, curas 25ª e 87ª;<br />

Quatro Casos de H<strong>em</strong>orragias Nasais - Centúria II, cura<br />

100ª; Centúria VI, curas 6ª e 54ª; Centúria VII, cura 66ª;<br />

A OTORRINOLARINGOLOGIA EM PORTUGAL 35<br />

Dez Casos sobre Anginas - Centúria I, curas 40ª, 87ª e<br />

100ª; Centúria III, curas 28ª, 29ª e 50ª; Centúria IV, cura 90ª,<br />

Centúria V, curas 55ª e 73ª; Centúria VII, cura 90ª;<br />

Três casos sobre Afonia - Centúria II, cura 70ª; Centúria IV,<br />

cura 14ª; Centúria VI, cura 5ª.<br />

Em virtude de cada uma das curas ser extensa e com comentários,<br />

e de ser<strong>em</strong> várias as da área de Otorrinolaringologia,<br />

irei, a título de ex<strong>em</strong>plo, referir uma das curas, a<br />

Cura 90ª, da IV Centúria:<br />

“A Viúva Rica sofria de uma angina. Não engolia nada, tinha<br />

febre, <strong>do</strong>ía-lhe a garganta e respirava com dificuldade, escarran<strong>do</strong><br />

porém muita matéria purulenta. Na ocasião <strong>em</strong><br />

que escarrava, apertava de la<strong>do</strong> a cabeça com as mãos.<br />

Nesse t<strong>em</strong>po não podia falar. Fui eu próprio vê-la a casa, e<br />

consideran<strong>do</strong> o referi<strong>do</strong> e que era uma mulher jov<strong>em</strong> e obesa<br />

e se estava no pino <strong>do</strong> Verão, mandei tirar-lhe seis libras de<br />

sangue da veia cefálica <strong>do</strong> braço. Externamente foi aplica<strong>do</strong><br />

no pescoço o seguinte <strong>em</strong>plastro: ninho-de-an<strong>do</strong>rinha, com<br />

alteia e camomila, faça-se um decocto suficiente com água<br />

e pise-se num almofariz. A isto junte-se de farinha de cevada,<br />

2 onças; de camomila, uma onça; de óleo rosa<strong>do</strong> de camomila,<br />

uma onça; de croco, uma dracma. Misture-se com o referi<strong>do</strong><br />

decocto, quanto baste, faça-se um <strong>em</strong>plastro e<br />

aplique-se tépi<strong>do</strong> ao pescoço. Foi também prepara<strong>do</strong> o seguinte<br />

gargarejo: de águas de tanchag<strong>em</strong> de rosas, uma libra;<br />

de xarope acetoso simples, uma onça; de diamorão, uma onça<br />

e meia; de croco, uma onça e meia. A <strong>do</strong>ente deu-se b<strong>em</strong> com<br />

este tratamento, que não foi necessário recorrer à abertura<br />

das veias sublinguais, tal como aconteceu com um solda<strong>do</strong>,<br />

que regressou da guerra”.<br />

Após a descrição da cura, Amato colocava os seus comentários:<br />

“Para dizermos agora algo sobre a angina, de acor<strong>do</strong> com<br />

Galeno, Hipócrates chama a todas as afecções (males) que<br />

afectam a garganta ou fauces com dificuldade respiratória,<br />

anginas. Há cinco espécies de anginas: a primeira dá-se<br />

quan<strong>do</strong> se tornam inflamadas as fauces, isto é, a parte interior<br />

da boca, onde se juntam as extr<strong>em</strong>idades da garganta e<br />

<strong>do</strong> esófago. A segunda verifica-se quan<strong>do</strong> n<strong>em</strong> as fauces<br />

n<strong>em</strong> as outras partes da boca, n<strong>em</strong> qualquer das partes externas<br />

parec<strong>em</strong> inflamadas e no entanto o <strong>do</strong>ente t<strong>em</strong> a sensação<br />

de perigo de sufocação da garganta. A terceira é<br />

quan<strong>do</strong> aparece, externamente, uma inflamação à volta das<br />

fauces. A quarta é quan<strong>do</strong> tanto a parte exterior como interior<br />

da garganta aparece inflamada. A quinta é quan<strong>do</strong> na<br />

parte anterior <strong>do</strong> pescoço, se deu a luxação das vértebras,<br />

isto acontece pelo aparecimento de um tumor extranatural<br />

ou por um tubérculo aí nasci<strong>do</strong>.”<br />

A parte seguinte <strong>do</strong> comentário é sobre as propriedades<br />

<strong>do</strong> ninho-de-an<strong>do</strong>rinha, como força dissipante da <strong>do</strong>ença.<br />

Amato Lusitano foi poliglota, <strong>do</strong>minava o Latim, o Grego,<br />

o Hebraico, o Árabe, o Português, o Castelhano, o Francês,<br />

o Italiano, o Al<strong>em</strong>ão e presume-se que também o Inglês.<br />

Max Solomon, um <strong>do</strong>s seus biógrafos, considerou-o<br />

como: “Um hom<strong>em</strong> que representa a Medicina <strong>do</strong> século<br />

XVI, como Erudito, como Anatomista e como Clínico.”

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