Livro Historia_ORL em Portugal.pdf - Repositório do Hospital Prof ...
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PRIMEIRO CASO DE MORTE<br />
PELO CLOROFÓRMIO<br />
REGISTADO EM PORTUGAL<br />
Na Revista Gazeta Médica de Lisboa, <strong>em</strong> 16 de Janeiro de<br />
1860, v<strong>em</strong> relata<strong>do</strong> o primeiro caso de morte pelo clorofórmio,<br />
regista<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong>. O artigo começa por referir<br />
que o clorofórmio já t<strong>em</strong> feito um certo número de<br />
vítimas e que <strong>em</strong> França e Inglaterra esse número ascendia<br />
acima de 120.<br />
Este caso é o relato da<strong>do</strong> ao Jornal pelo Sr. EMÍLIO SEVE-<br />
RINO DE AVELLAR, destaca<strong>do</strong> aluno da Escola, a qu<strong>em</strong> o<br />
<strong>do</strong>ente pertencia. O <strong>do</strong>ente era João Ferreira de Matos,<br />
de 29 anos e tinha si<strong>do</strong> interna<strong>do</strong> para a extracção de <strong>do</strong>is<br />
pequenos quistos da pálpebra superior.<br />
A administração de clorofórmio foi realizada pelo Sr. Dr.<br />
Maduro, um facultativo brasileiro que estava presente na<br />
sala. Segun<strong>do</strong> o relato, o colapso foi imediato, ten<strong>do</strong> o<br />
<strong>do</strong>ente faleci<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>do</strong>is minutos. Segue-se o relato das<br />
tentativas de reanimação e da posterior autópsia.<br />
A conclusão <strong>do</strong> artigo é que nas operações pequenas, não<br />
se deve descurar, ainda que raros, os perigos <strong>do</strong> uso <strong>do</strong><br />
clorofórmio que se deveria analisar muito b<strong>em</strong> o esta<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> coração e <strong>do</strong>s pulmões antes <strong>do</strong> <strong>em</strong>prego desta droga.<br />
A MEDICINA<br />
CONTEMPORÂNEA E A<br />
OTORRINOLARINGOLOGIA<br />
A partir <strong>do</strong> dia 7 de Janeiro de 1883, iniciou-se a publicação<br />
da revista: “A MEDICINA CONTEMPORÂNEA” que se<br />
veio a tornar no mais importante periódico português de<br />
medicina <strong>do</strong> final <strong>do</strong> Século XIX. A Redacção era composta<br />
pelo <strong>Prof</strong>. Manuel Bento de Sousa, Presidente, e os<br />
redactores eram o <strong>Prof</strong>. António Maria de Senna; Bettencourt<br />
Raposo; Curry Cabral; Daniel Mattos; J. A. Serrano;<br />
Miguel Bombarda; Oliveira Feijão; Sabino Coelho; Sousa<br />
Martins; V. de Saboya e o Dr. Carlos Tavares. Na nota introdutória<br />
são referi<strong>do</strong>s os seguintes objectivos da Revista:<br />
“Dar conta <strong>do</strong>s adiantamentos da sciencia no Estrangeiro,<br />
pôr <strong>em</strong> relevo os factos e estu<strong>do</strong>s Portugueses, e advogar<br />
todas as reformas úteis que digam respeito à Medicina e seu<br />
exercício entre nós.”<br />
O primeiro trabalho publica<strong>do</strong> foi um estu<strong>do</strong> anatómico<br />
sobre o Nervo de Wrisberg, por CARLOS TAVARES. Este estu<strong>do</strong><br />
prolongou-se ao longo de 46 números da revista e<br />
só terminou <strong>em</strong> 11 de Nov<strong>em</strong>bro desse Ano. Este trabalho<br />
foi publica<strong>do</strong> sobre a forma de <strong>Livro</strong>, com o título “O<br />
NERVO DO GOSTO OU DE WRISBERG (INTERMEDIÁRIO)”,<br />
Tese inaugural à Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, por<br />
Carlos Tavares <strong>em</strong> 1883. A 3ª parte <strong>do</strong> <strong>Livro</strong> intitula-se “O<br />
A OTORRINOLARINGOLOGIA EM PORTUGAL 79<br />
Nervo Gustativo de Souza” <strong>em</strong> que Carlos Tavares procura<br />
provar a existência de uns pequenos nervos, relaciona<strong>do</strong>s<br />
com os nervos petrosos profun<strong>do</strong>s e com os superficiais<br />
a que chamou Nervos Gustativos de Sousa.<br />
No jornal, A MEDICINA CONTEMPORÂNEA de 11 de Agosto<br />
de 1895, encontro sob o título de “TUMOR NO CEREBELLO”<br />
um artigo de CARVALHO DE FIGUEIREDO e de GREGÓRIO<br />
FERNANDES, naquela que poderá ser a primeira descrição<br />
de um neurinoma <strong>do</strong> acústico <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong>.<br />
“A gravura que vae junta a esta observação é de um tumor<br />
<strong>do</strong> cerebêllo, diagnostica<strong>do</strong> durante a vida de um individuo<br />
que entrou para a enfermaria de S. Francisco <strong>em</strong> meia<strong>do</strong>s de<br />
Dez<strong>em</strong>bro e que falleceu passa<strong>do</strong>s poucos dias - O <strong>do</strong>ente<br />
fôra nos envia<strong>do</strong> pelo nosso colega Carvalho de Figueire<strong>do</strong>,<br />
na persuação de que se tratasse de alguma alteração <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong><br />
interno.<br />
Eu vi-o <strong>em</strong> 28 de Set<strong>em</strong>bro, até quan<strong>do</strong> foi trata<strong>do</strong> por outro<br />
medico.<br />
Estava de cama n’um grande esta<strong>do</strong> vertiginoso; eram permanentes<br />
as vertigens, até d’olhos fecha<strong>do</strong>s e <strong>em</strong> completa<br />
immobilidade. Causavam-lhe grande incommo<strong>do</strong> os ruí<strong>do</strong>s<br />
na estrada próxima á casa: dizia que lhe soavam dentro da<br />
cabeça. Ouvia b<strong>em</strong>. Aquellas vertigens eram tão intensas<br />
que o <strong>do</strong>ente mal se podia assentar na cama e quan<strong>do</strong> o<br />
fazia era de olhos fecha<strong>do</strong>s. A claridade aggrava-as tamb<strong>em</strong>.<br />
Tinha fastio completo, desanimo por o seu esta<strong>do</strong>; prizão de<br />
ventre, curtos somnos e vómitos frequentes ao tomar alimentos,<br />
assim como espontaneamente.<br />
Foi por esse t<strong>em</strong>po que elle accusou novas alterações auditivas:<br />
tinha zumbi<strong>do</strong>s, <strong>do</strong> la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>, d’onde quasi não<br />
ouvia: um relógio de algibeira só o percebia quasi encosta<strong>do</strong><br />
á orelha; daquelle la<strong>do</strong> não accusava também os estali<strong>do</strong>s<br />
provoca<strong>do</strong>s pelos processos d’exploração de Toynbee e de<br />
Valsalva. Havia pois também obstrucção da trompa d’Eustachio<br />
esquerda.<br />
Seguidamente foi toman<strong>do</strong> mais forças. Dormia b<strong>em</strong>. Cessaram<br />
os zumbi<strong>do</strong>s; ouvia um pouco melhor; o coração chegava<br />
a não dar falhas durante3 e 4 minutos; os vómitos da<br />
manhã faltavam ás vezes; havia dias até <strong>em</strong> que nenhum<br />
vinha e o esta<strong>do</strong> vertiginoso diminuía, a ponto <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente<br />
passear pelo quintal e por casa, encosta<strong>do</strong> a <strong>do</strong>is paus (um<br />
<strong>em</strong> cada mão).<br />
Eis o que me ocorre relativo ao hom<strong>em</strong>, cuja titubeação procurei<br />
estudar, mas da qual não achei descripção conveniente,<br />
nos livros que consultei e nunca tinha observa<strong>do</strong>.”<br />
Termina aqui a primeira parte <strong>do</strong> artigo, a partir daqui o<br />
<strong>do</strong>ente foi envia<strong>do</strong> para a enfermaria <strong>do</strong> Dr. GREGÓRIO<br />
FERNANDES no <strong>Hospital</strong> de S. José e é este Médico que<br />
continua o artigo:<br />
“A observação a que proced<strong>em</strong>os veiu nos d<strong>em</strong>onstrar que<br />
se tratava de um tumor <strong>do</strong> cerebello e não de qualquer alteração<br />
<strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> ouvi<strong>do</strong>. O exame feito com o especulo nada