Iracema, mon amour - Cabine Cultural
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pessoal de Ribeirão fez algumas compras. Coisas de turistas mesmo. Eu e o meu<br />
companheiro de viagem optamos por algumas Paceñas. Coisa nossa mesmo.<br />
Arrumamos um bar em um subsolo muito próximo ao nosso hotel. Era um bar sem<br />
o menor requinte, escondido e freqüentado somente por bolivianos. Gostei da fuça<br />
e do clima da espelunca. Fomos muito bem tratados, a cerveja era gelada e a<br />
trilha sonora de músicas latinas trouxe algumas pérolas, como versões de músicas<br />
sertanejas brasileiras para o espanhol, com um tempero de mambo, salsa e<br />
bolero. Impagável.<br />
Depois de relaxar o corpo e desanuviar a mente, nós fomos dar umas<br />
bandas pela Avenida 16 de Julio (ou Paseo de el Prado). É a principal avenida da<br />
capital boliviana. É lá que estão as multinacionais, as empresas de comunicação,<br />
as embaixadas, os bancos, vários prédios do governo, cinemas, restaurantes,<br />
lojas mais refinadas, etc. Descemos caminhando até a Plaza Isabel La Católica.<br />
Ali perto ficava o Mongo’s, um bar indicado pelo camarada Vitão. Antes de<br />
viajarmos, conversamos com algumas pessoas que já haviam feito o mesmo<br />
trajeto, o Vitão foi um deles. Entramos no tal do Mongo’s (que nome!), sacamos o<br />
ambiente, trocamos umas idéias com os funcionários e já tínhamos um local para<br />
passar a virada de ano. Uma van. Lotação até a Plaza Eguino. Tentativas<br />
frustradas de ligar para minha família e para minha Marina. Hotel. Banho. Batemos<br />
novamente a pé até o Mongo’s. Começou a balada.<br />
O bar era maneiro, bem decorado e aconchegante. A luz baixa e as velas me<br />
agradavam. Odeio bares muito iluminados, tenho sempre a terrível impressão de<br />
estar bebendo em uma farmácia ou num hospital. As músicas que tocaram<br />
durante a noite eram quase todas do pior do pop americano. Houve uma sessão<br />
rock’n’roll, com bandas britânicas, uma sessão hip-hop e, no final, somente as<br />
terríveis músicas bolivianas. A maioria absoluta do público era estrangeira, quase<br />
todos jovens. Muitas turmas, muitas línguas e muita cerveja. A Bolívia tem<br />
algumas variedades de cervejas, sendo todas da mesma fábrica, a Cervezeria<br />
Boliviana Nacional fabrica a Paceña, Huari, Pilsen, Centenário, Bock e Tropical<br />
Extra. Experimentamos todas, claro. E optamos por passar a noite com a Huari.<br />
Sentia falta da Marina e afogava minha saudade na minha caneca de cerveja.<br />
Conhecemos muitas pessoas. Três brasileiras cocotas de São Paulo. Uma turma<br />
de duas cariocas e dois paulistas. Um casal holandês, gente finíssima. Uma<br />
animada e rechonchuda turma de bolivianos. E um peruano que não gostou de<br />
uma brincadeira que eu fiz com ele. Em determinado momento da conversa, ele<br />
falou: “Viva su puto carnaval!” Eu respondi: Viva su puto Sendero Luminoso!” O<br />
peruano mudou sua fisionomia e disse-me em tom reprovador que o Sendero<br />
Luminoso não era o Peru. Para quem não conhece, basta dizer que Sendero<br />
Luminoso é uma facção política de extrema esquerda que prega a revolução<br />
socialista por meio de atentados. A guerrilha do Sendero já foi mais forte nas<br />
décadas de setenta e oitenta, hoje está enfraquecida e aparentemente<br />
desarticulada. Os caras de Ribeirão apareceram por lá depois da uma da manhã,<br />
já no ano seguinte. Passamos a noite nos revezando para buscar cerveja.<br />
Bebemos muito e, se não me falhe a memória, os temidos efeitos do álcool na<br />
altitude não nos afetou. We’ve spoken english, falamos português e hablamos<br />
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