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Iracema, mon amour - Cabine Cultural

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musicais com o Breno. Conversamos também sobre cinema e carnaval. Caímos<br />

fora e andamos sem rumo para matar o tempo e fazer a digestão. Desta vez o<br />

papo foi mais para o lado escatológico, precisamente desceu até os confins do<br />

intestino grosso. Ficamos conversando sobre os prazeres de uma cagada. “Cagar<br />

é cultural”, dizia Breno. “É sério! A posição que você senta, a relação entre você,<br />

seu corpo e a merda, tudo é cultura!”, bradava o estudante de antropologia. A<br />

conversa nos animou. Voltamos ao mesmo restaurante, aquele com banheiro<br />

bom, e pedimos umas cervejas para acompanhar a conversa. Enquanto<br />

conversávamos, nosso grupo se revezava nos dois banheiros da casa.<br />

Percebemos que os banheiros eram bem requisitados, vários turistas entravam lá<br />

só para irem cagar. O banheiro era a vedete do restaurante. A cerveja de um litro<br />

também era requisitada e ajudou a manter a conversa animada até 15 minutos<br />

antes da partida do trem. Conversamos sobre violência urbana, política, cinema e<br />

drogas. Um bate-papo com pessoas inteligentes é sempre interessante, há<br />

argumentação, defesas e ataques. O auge da conversa foi, mais uma vez, quando<br />

começamos a falar sobre culinária. Era engraçado, durante a viagem,<br />

conversando o tempo todo, sempre a conversa rodava, rodava, rodava e caía na<br />

seara da culinária. Conversávamos sobre comida o tempo todo. Breno adorava<br />

cozinhar e comer, eu também. Anselmo, Glória e Pedro também desnudavam<br />

suas receitas secretas e prediletas. Conversamos até sobre o saboroso capítulo<br />

do O Povo Brasileiro, do Darcy Ribeiro, que fala sobre a culinária mineira e<br />

sertaneja. É um deleite e serviu para abrir nosso apetite. Jantamos. Os pratos no<br />

Peru são quase todos precedidos por sopas. Tomei muita sopa na viagem, minha<br />

mãe ficaria contente ao ler isto, ela fala que eu detesto sopa. E o dia que<br />

temíamos por sua duração, que poderia ser uma espera chata e entediante,<br />

ganhou asas e voou.<br />

Saímos correndo em direção à estação de trem. Cinco minutos de<br />

caminhada e percebi que estava sem minha máquina fotográfica. Voltei correndo<br />

enquanto o pessoal seguia para a estação. Nunca mais vou ralhar com jogadores<br />

e técnicos que culpam a altitude por maus resultados. É impossível correr mais<br />

que 100 metros na altitude. Parava a todo instante para respirar e puxava o ar<br />

com força, mas o ar simplesmente não vinha. Um tormento. Entrei no restaurante<br />

com os bofes de fora, fui logo perguntando pela minha máquina. Nada. Fui até a<br />

mesa que estávamos e nada. O restaurante estava vazio, todos os turistas já<br />

tinham partido para a estação. O pessoal do restaurante se desculpou muito e<br />

disseram que freqüentemente encontram coisas esquecidas pelos turistas e<br />

sempre as devolviam para seus donos. Convenceram-me, afinal eles precisam<br />

tratar bem os turistas para sobreviverem e agüentarem a forte concorrência com<br />

as dezenas de outros restaurantes. Percebi que fui roubado por turistas mesmo.<br />

Um grande vacilo de cinco minutos foi suficiente para perder a minha máquina.<br />

Fiquei putíssimo. Mais pelas fotos do que pela máquina. Perdi as melhores fotos<br />

da viagem, em Cuzco, Saqsaywaman e da procissão. Iria para Machu Picchu sem<br />

máquina. Não poderia registrar o ponto alto da viagem. Ainda tínhamos a máquina<br />

do Anselmo, porém ele a achava não muito confiável, já era muito rodada. Voltei<br />

correndo do restaurante e senti que não daria tempo de pegar o trem, estava em<br />

cima da hora. Peguei carona com um triciclo que partia em frente de uma<br />

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