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Iracema, mon amour - Cabine Cultural

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14º Dia – Suco e bagaço da Lima<br />

Estradas/Lima, 10/01/05.<br />

O ônibus de Cuzco até Lima, apesar da distância não ser tão longa, demora<br />

mais de 20 horas. Ele segue descendo a cordilheira por uma estrada desértica,<br />

erma e sinuosa. O itinerário do busão era bem lusitano, pois ele voltava até<br />

Nazca, já no nível do mar, aí depois, seguia acompanhando o oceano Pacífico até<br />

a capital Lima. Mal conseguíamos dormir de tantas curvas que o ônibus fazia na<br />

descida dos Andes, sentia-me viajando em algum destes brinquedos<br />

desagradáveis de parques de diversões. O frio da madrugada venceu minhas<br />

roupas e tremi durante boa parte da estrada. Quase congelei na madrugada mais<br />

fria da viagem.<br />

Por volta das 8h30 o bumba parou em um restaurante sujo e soturno, bem<br />

perto de Nazca. Pensei que no dia anterior tivesse chovido urina lá pelas bandas<br />

do restaurante, pois o odor estava fortíssimo, dentro e fora, em cima e em baixo,<br />

em todos os lugares. Um cheiro acre envolvente que contaminava o ambiente<br />

todo. Na tevê passava Chaves. Por diversas vezes vimos Chaves ou Chapolin nas<br />

telas, eram programas muito populares e pareciam ser televisionados o dia todo,<br />

manhã, tarde e noite. Os passageiros tinham direito a uma refeição. E era uma<br />

refeição mesmo, arroz, batatas, molho e alguns escassos nacos de carne. Não<br />

tivemos disposição de bater um PF logo no desayuno, os trocamos por dois chás<br />

de coca e quatro pães com ovo. Sem sal. Ficamos rindo impressionados com o<br />

tamanho do prato de um tiozinho. Era uma <strong>mon</strong>tanha de arroz com a mistura<br />

transbordando pelos lados. Era só o café da manhã, imaginem como seria o<br />

almoço. Não contente, o tiozinho ainda pediu uma cesta de pães para<br />

acompanhar e reforçar seu pratinho. De volta ao ônibus tivemos que encarar mais<br />

um filme. Desta vez foi uma fita peruana, chamada Flor de Aratama, dirigida por<br />

Martín Landao. Animei-me com a possibilidade de ver um filme peruano, algo até<br />

então inédito para mim. Assisti ao filme com atenção redobrada. Foi péssimo.<br />

Muito pior que Tróia. Um novelão ridículo gravado em película, um desperdício. A<br />

história era mais ou menos assim: um sujeito (branco) de meia idade herda uma<br />

fazenda e resolve mudar-se para lá juntamente com sua bela filha jovem e<br />

sonhadora. O sujeito, que é sempre tratado como “El Patrón” pelos funcionários,<br />

consegue fazer a abandonada fazenda “prosperar”. Organiza os trabalhadores<br />

(todos com feições indígenas, é claro) e aí vem uma infindável seqüência de<br />

cenas mostrando o pessoal trabalhando sorrindo, com uma trilha sonora mais que<br />

piegas, constrangedora. Enquanto todo mundo trabalha, El Patrón passeia pelos<br />

campos doutrinando sua jovem filha bela e sonhadora, “isto tudo um dia será seu”.<br />

A serelepe jovem e sonhadora, como todas as demais belas jovens saltitantes e<br />

sonhadoras, gosta muito de passear pelos campos, colher flores silvestres, fazer<br />

amizade com coelhinhos e tomar banho nua nos rios. Um a<strong>mon</strong>toado de clichês.<br />

Como era de se esperar, a adorável jovem sonhadora acaba envolvendo-se e<br />

apaixonando-se por um rapaz trabalhador índio. O filme alega ser baseado em<br />

fatos reais e se passa no princípio da década de 80. Há também uma personagem<br />

muito ambígua mal acabada, uma índia mucama que trata El Patrón como rei e os<br />

empregados como cachorros, aos berros e impropérios. Em determinado<br />

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