Iracema, mon amour - Cabine Cultural
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eram brasileiros. É por esta diversidade que o passaporte brasileiro é um dos mais<br />
visados para roubo e posterior falsificação, todo mundo pode se passar por<br />
brasileiro. Peço perdão por essa última observação manjada, suada e gasta.<br />
De volta ao ônibus e iniciamos os contatos com os outros mochileiros. Um<br />
dos caras estava lendo um panfleto sobre Machu Picchu e eu pedi emprestado.<br />
Estavam viajando em quatro pessoas, três homens (João, Edwin e Douglas) e<br />
uma mulher (Lígia). João e Edwin eram residentes da medicina de Ribeirão Preto,<br />
o Douglas era irmão do Edwin e era também o guia do grupo. E a Lígia era uma<br />
amiga deles todos. Chegamos a Corumbá e logo chamamos a atenção dos guias<br />
locais. Os hotéis e as agências de turismo da cidade colocam funcionários na<br />
rodoviária para abordar os turistas. Quem nos abordou foi um sujeito chamado<br />
Junior. Foi educado e prestativo. Explicou-nos que já não havia mais tempo de<br />
pegar o Trem da Morte na Bolívia. Falou dos perigos do país vizinho e das “taxas”<br />
cobradas pelo pessoal da fronteira boliviana. Ofereceu-nos carona até sua<br />
pousada. Fomos. Todos numa Kombi velha e barulhenta. A pousada do Junior<br />
chamava-se Green Trek e custava R$10,00 por pessoa. Os serviços oferecidos e<br />
as instalações eram todos bem R$10,00. Não havia segurança, o banheiro<br />
coletivo era muito ruim e os quartos apertados não eram nem um pouco<br />
confortáveis. Agradecemos, pegamos informações sobre a cidade e saímos para<br />
procurar outro lugar. Corumbá fica nas margens do rio Paraguai, que é maior do<br />
que eu imaginava e menor do que sua fama.<br />
Depois de consultar e negociar uns três hotéis diferentes, nós acabamos<br />
ficando no Hotel Premier, que nos ofereceu um serviço justo por R$20,00 cada<br />
um. O calor continuava forte e mais um banho antes de sair para jantar foi<br />
necessário. Eu queria comer peixe, o pessoal queria rodízio. Venceu a maioria. No<br />
restaurante a Lígia encontrou um conhecido de São Paulo. Ela é chinesa e mora<br />
no Brasil desde pequena, acabou encontrando com uma turma de mais de 50<br />
turistas chineses radicados em São Paulo. E o guia do povo todo era justamente<br />
seu conhecido. Os dois conversaram em chinês e o guia tirou várias fotos nossas.<br />
Foi muito estranho. Senti-me numa vitrine. Ou num museu. Somente eu e o<br />
Anselmo bebemos cerveja para ajudar a empurrar as carnes e depois da refeição<br />
o pessoal foi fazer uma hora de internet e nós fomos dar um rolê por Corumbá. A<br />
praça central é bacana, a única coisa que estragava era a decoração de natal.<br />
Paramos em um boteco para espantar o calor e tomar umas cervejas “nana<br />
neném”. Mesmo à noite, o calor nos fazia transpirar. Sentia-me em constante<br />
banho-maria. Num caldeirão sob o fogo. As cigarras fazendo uma algazarra<br />
lembraram-me a minha infância. Como é que um inseto tão pequeno pode fazer<br />
um barulho tão alto? Inesperadamente, o Anselmo dirigiu-se ao balcão e comprou<br />
cigarros e fogo. Acendeu. Naquele momento descobri que tinha voltado a fumar.<br />
Disse-me que era “de vez em quando”. Voltamos ao hotel e dormimos. Ainda bem<br />
que tínhamos deixado o ar condicionado ligado.<br />
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