Iracema, mon amour - Cabine Cultural
Iracema, mon amour - Cabine Cultural
Iracema, mon amour - Cabine Cultural
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
pessoas, não mais. O chão era de terra batida e com as chuvas estava todo<br />
lamacento. Apesar de ser freqüentada durante todos os dias do ano, a estação<br />
não tinha banheiro, lixo, lanchonete, nada. Nada mesmo. Um absurdo<br />
incompreensível. De<strong>mon</strong>stra um amadorismo e precariedade que contrasta com o<br />
profissionalismo turístico de determinados locais em Cuzco. Contrasta também<br />
com o preço que eles cobram nas passagens. Cobram alto e não oferecem um<br />
serviço à altura.<br />
Era uma sexta-feira, curtiríamos Machu Picchu no sábado e gostaríamos de<br />
retornar no domingo para passar pelo mercado de Pisaq antes de retornar à<br />
Cuzco. O mercado acontece aos domingos, terças e quintas. Dizem que é<br />
imperdível. Portanto, como queríamos ver para crer, pagamos a passagem de<br />
volta mais cara, no domingo de manhã. Saímos da estação com a Glória<br />
praguejando contra a desorganização total que havíamos encontrado. “Como é<br />
que a América Latina quer se organizar se não conseguem acertar algo simples<br />
como uma estação?”, dizia a européia. “Quem é que disse que a América Latina<br />
quer se organizar?”, retrucava Pedro. “Glória, você está em crise de identidade”,<br />
alfinetava Breno. E para concluir, Glória fulminava: “É uma vergonha! Uma<br />
vergonha!”. Esfriados os ânimos, esquentamos os corpos com mate de coca e<br />
pães num agradável desayuno ao ar livre. Enquanto comíamos fomos<br />
surpreendidos por uma linda e colorida procissão cristã. Como aconteceu no<br />
Brasil, principalmente no Norte e Nordeste, com rituais e ícones pagãos sendo<br />
incorporado nas festas católicas, ocorreu o mesmo no Peru, e também certamente<br />
deve ter ocorrido pela América Latina afora. A procissão era composta por alas e<br />
cada uma delas estava devidamente fantasiada. Máscaras de pumas, serpentes e<br />
condores, diversas máscaras antropomórficas, roupas coloridas, espadas, arcos e<br />
flechas. Havia até um sujeito que carregava dois grandes galhos de coca,<br />
dançado e protegendo a Virgem da procissão. Tamborins, flautas e instrumentos<br />
de corda dos quais não me recordo os nomes. Só dei que não eram violão, viola e<br />
nem cavaquinho. Muito se assemelham ao nosso cavaquinho, porém com seis<br />
cordas duplas, como a nossa viola caipira. Muitas crianças entoando as músicas e<br />
muitos estandartes e flâmulas. Um espetáculo visual que pegou-nos de supetão e<br />
nos rendeu muitos comentários e sorrisos. No confortável restaurante onde<br />
tomávamos café, descobri o que veio a ser, sem o menor resquício de dúvida, o<br />
melhor banheiro encontrado em toda a viagem. Era limpo, cheiroso, tinha assento<br />
e papel bom, água corrente e sabonete, azulejos nas paredes, janela para<br />
ventilação e toalha. Um banheiro digno e completo. Depois do banheiro, digo,<br />
depois do restaurante, fomos explorar as gigantescas ruínas de Ollantaytambo.<br />
As impressionantes ruínas de Ollantaytambo eram majoritariamente usadas<br />
para a agricultura e estocagem de alimentos. Mas é claro que elas também eram<br />
dotadas de uma parte religiosa e outra residencial. Os incas aproveitaram a<br />
<strong>mon</strong>tanha e construíram enormes degraus na sua encosta. Eram bem largos e<br />
muito compridos. Plantavam seus produtos nestes degraus. Duas longas<br />
escadarias de pedra cortavam verticalmente as plataformas de plantio e seguiam<br />
para o topo da <strong>mon</strong>tanha. Lá em cima ficava o templo e outras construções<br />
também usadas para rituais. Subimos. A vista era deslumbrante, víamos o rio<br />
39