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Iracema, mon amour - Cabine Cultural

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nos empolgamos muito com o mercado. Se soubéssemos como seria, não<br />

teríamos pagado a passagem mais cara apenas para poder passar por lá.<br />

Poderíamos ter ficado mais um dia em Aguas Calientes para descansar e depois<br />

pegar o trem mais barato. Enfim, não podemos acertar todas.<br />

Almoçamos decentemente, também um prato com salada e sopa de entrada.<br />

A forte pimenta peruana quase estragou nosso paladar. Com o tempo nos<br />

habituamos e o resultado final foi satisfatório. As cervejas desciam com facilidade<br />

e ficamos mais tempo que o necessário no restaurante, bebendo e conversando.<br />

Todo mundo estava muito cansado e resolvemos voltar para Cuzco antes do<br />

anoitecer. Pegamos novamente nossas mochilas e entramos num ônibus para<br />

Cuzco. A trilha sonora foi uma tortura. Tocava uma fita de uma banda boliviana<br />

chamada Los Puntos (ou seria Los Putos?), conforme os outros passageiros nos<br />

contaram. Era uma gritaria infernal que acompanhava um ritmo maçante, marcado<br />

por malditos teclados eletrônicos. A banda devia ter uns cinco vocalistas, era uma<br />

zorra insana. Pior, era uma gravação ao vivo e o furdúncio do palco misturava-se<br />

à algazarra do público. Não éramos os únicos no ônibus incomodados com a<br />

música e com o volume altíssimo. Outros passageiros também estavam<br />

visivelmente incomodados. Aquilo ia entrando na minha cabeça como um mantra<br />

do mal e não me deixava pensar, dormir, nada. Era uma música entorpecente, no<br />

pior sentido tóxico da palavra. Contamina os ouvidos, o humor e a alma. Temos<br />

que agradecer todos os dias pela presença dos negros na nossa cultura. Sem a<br />

influência africana, certamente nossa música seria mais pobre e, em alguns<br />

momentos, tão ruim quanto o pior do pop peruano e boliviano. Temos o samba, o<br />

chorinho, a bossa nova, o maracatu e muitos outros ritmos; e temos também a<br />

antropofagia tupiniquim que devora influências externas e vomita algumas pérolas.<br />

Paramos em Cuzco e agora havia chegado o momento que todos nós, em<br />

diferentes proporções, mas ainda assim invariavelmente, odiamos: a despedida.<br />

Foi triste e alegre. Triste por nos separar de nossos amigos Breno, Pedro e Glória.<br />

E alegre por termos conhecido estas pessoas fantásticas. Iríamos direto para a<br />

rodoviária na tentativa de embarcar para Lima. Nossos amigos retornariam ao<br />

mesmo hotel que nos hospedamos na primeira estadia em Cuzco, com um preço<br />

bem camarada. Na rodoviária não foi difícil descolar passagens para Lima.<br />

Escolhemos uma empresa que se apresentava em um guichê maneiro, assim a<br />

possibilidade do ônibus ser melhor seria aumentada. Na hora de pagar a<br />

atendente recolhe minha nota de S$50,00, analisa, olha-a na contra-luz e diz que<br />

é falsa. “Como?”, eu disse espantado. “Falsa, sem validade”, respondeu a<br />

atendente. Peguei a nota de volta e comprovei que era uma falsificação muito<br />

grosseira, com textura e cores diferentes. “Puta que o pariu, caralho!” Fiquei irado.<br />

Só tínhamos trocado dinheiro em uma casa de câmbio de Cuzco, e notas grandes<br />

como uma de S$50,00, eu não tinha conseguido de troco, foi trocada na casa de<br />

câmbio mesmo. Nosso ônibus sairia às 19h00 e ainda eram um pouco além das<br />

17h00. Fui trocar a porra da nota. O Anselmo ficou com as malas na rodoviária e<br />

eu parti em direção à casa de câmbio falsária. Peguei um táxi e logo quando fui<br />

entrando no local, ainda da calçada, pude ver a mulher deixar seu posto<br />

rapidamente e sair em disparada para a parte de trás da loja. Era uma loja que<br />

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