Iracema, mon amour - Cabine Cultural
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5º Dia – Primeiro dia do resto de nossas vidas<br />
La Paz, 01/01/05.<br />
A frase do título é bem velha, mas é irretocável. Definitiva.<br />
Acordamos tarde, já se passavam das 13h00. Banho. Passeio pelo centro.<br />
Almoço numa rede de fast-food boliviana. Frango frito. Mais de 80% da carne<br />
consumida na Bolívia, e no Peru também, é de frango. O tal do pollo é dominante,<br />
muito vendido e muito consumido. Nas ruas, nas bodegas, nos restaurantes, nas<br />
feiras, no país inteiro. Após a refeição, andamos inutilmente até a rodoviária.<br />
Encontrava-se fechada no primeiro dia do ano. Estava bem gelado e caía uma<br />
chuva fina. O trajeto era composto por subidas longas e íngremes. Bendita seja a<br />
folha de coca. Sem muita perspectiva, pegamos um táxi até o Estádio Nacional<br />
Hernando Siles, o local onde a Bolívia manda seus jogos. É também o palco do<br />
maior derby local, Bolívar X The Strongest. Não pudemos entrar no estádio, mas<br />
por fora, andando por toda sua circunferência, deu para sacar que ele é bem<br />
imponente. Passamos também pela Plaza Tiwanaku, que nada mais é do que uma<br />
réplica de uma parte das ruínas de Tiwanaku. O sol deu o ar da graça e veio nos<br />
esquentar. O dia estava começando a ficar bonito.<br />
Descemos a pé, passando por um bairro bem residencial chamado<br />
Miraflores. Era um pedaço bacana de La Paz, arborizado e limpo. Com casas bem<br />
cuidadas, rebocadas e com pintura externa. Na Bolívia, segundo o Claudismar (ou<br />
seria Cleudismar?), há um imposto para as casas e estabelecimentos que são<br />
rebocados e pintados. Com imposto ou não, o fato é que a maior parte das<br />
construções bolivianas é inacabada, sem reboco e sem pintura. Não são muito<br />
chegados em telhados também. A maior parte das casas, principalmente nas<br />
periferias, não têm telhados. Somente a laje do teto e mais nada. Os morros e<br />
<strong>mon</strong>tanhas tomados por habitações deste tipo de construções dão a La Paz um<br />
aspecto de uma gigantesca favela. O tom predominante, marrom tijolo, contribui<br />
para tornar o ambiente bem insalubre. Bem triste também. Andamos até o Parque<br />
Mirador Laikakota. É o Parque Ibirapuera de La Paz. Pela quantidade de famílias e<br />
pelo tamanho da fila para entrar, dava para concluir que o feriado, agora<br />
ensolarado, atraiu os bolivianos para o parque. Por fora o Laikakota era muito<br />
bonito, com jardins floridos e árvores frondosas. Pela primeira vez na viagem eu vi<br />
uma alegria sincera e contagiante nos rostos dos bolivianos. Muitos com seus<br />
trajes típicos, muitos jovens casais e uma infinidade de crianças. Senti-me bem.<br />
Era algo totalmente corriqueiro e banal, mas era algo genuíno e real. Não era<br />
encenação para turista ver. Na verdade, eu e o Anselmo éramos os únicos<br />
turistas, e nós nos sentimos muito confortáveis naquela situação. Até o presente<br />
momento, em La Paz, só tínhamos estado em locais turísticos, que conservam<br />
sempre um ar de distanciamento, e apresentam quase sempre um ambiente<br />
controlado.<br />
O povo boliviano mantém aquela amabilidade latina. É uma cordialidade que<br />
muitas vezes chega a ser submissa e irritante. Mas são sempre educados e<br />
atenciosos. Aparentemente são pessoas de poucas palavras e pouquíssimos<br />
sorrisos. Até o passeio pelas cercanias do parque, em quase três dias de Bolívia,<br />
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