Iracema, mon amour - Cabine Cultural
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águas do Titicaca. Há estudiosos se debruçando sobre esta variante, mas como<br />
em toda a América Latina, a arqueologia do local carece de recursos técnicos e<br />
financeiros. Gastaram milhões para encontrar e filmar o Titanic, mas dificilmente<br />
fariam o mesmo com as civilizações do Titicaca. O Pedro soltou uma pérola<br />
definitiva: “Se for para tirarem as coisas do aí fundo e colocarem em museus de<br />
Nova Iorque, Londres ou Paris, é melhor que fique tudo embaixo d’água”. É bem<br />
por aí.<br />
Na Isla del Sol há o Templo do Sol, e a Isla de la Luna abriga, adivinhem, o<br />
Templo da Lua. O primeiro foi construído para Manco Kapac e o segundo para sua<br />
irmã, Mama Ocllo. Ambos representam a origem mítica do povo inca. São filhos do<br />
deus Sol, o Inti, e foram mandados para a terra para iniciarem a civilização inca.<br />
Manco Kapac é o deus que representa o sol, a terra e o dia. Já sua irmã,<br />
representa a lua, a fertilidade e a noite. Aportamos na ilha e iniciamos nossa<br />
caminhada. Além de nós brasileiros, tinha também uma família de franceses, dois<br />
argelinos, um punhado de americanos e turistas bolivianos. Subimos uma longa<br />
escadaria inca que culminava numa fonte de água límpida e potável. As águas da<br />
fonte, mesmo após centenas de anos continuam escorrendo pelos encanamentos<br />
de pedras e outras engenhocas incas. Dizem que a água é mágica, e muita gente<br />
aproveita para encher suas garrafas, ou apenas beber um pouco. O guia nos disse<br />
que a água vinha diretamente de Machu Picchu. Sinceramente, eu não botei fé.<br />
Os incas eram muito bons em arquitetura e engenharia, mas espere aí, para tudo<br />
há limites. Há na ilha muitos terraços para plantação de gêneros alimentícios e<br />
também plantas e flores decorativas. Outrora existia ali um belo jardim inca,<br />
cuidadosamente destruído pelos espanhóis. Sobraram algumas árvores<br />
centenárias e pedras. Fomos subindo e ouvindo as explicações do guia, que<br />
aparentava não ter mais que 20 anos. Voltamos ao barco e partimos para o<br />
Templo do Sol, na parte sul da ilha. Descemos por lá e demos umas bandas no<br />
templo. Hoje ele não impressiona tanto, uma vez que os espanhóis roubaram<br />
todas suas estátuas de ouro e prata, e todos os outros possíveis adornos. Nada<br />
mais restou a não ser uma casa de pedra, curiosamente construída. Todas as<br />
portas são baixas para forçar quem entre a se curvar, fazendo assim uma<br />
reverência aos deuses. Há cômodos escuros e sem janelas, há também cômodos<br />
sem teto, onde possivelmente eram feitas observações dos astros. Caímos fora e<br />
fizemos o caminho de volta para Copacabana, mas desta vez contornando a Isla<br />
de la Luna. Não tínhamos comprado o pacote completo, de um dia inteiro, tivemos<br />
que optar por metade, pois já estávamos com passagens marcadas para Puno.<br />
Quando chegamos à terra firme, nem deu tempo para almoçar, fomos direto<br />
pegar nosso busão. Vocês se lembram da crise dos combustíveis lá em Santa<br />
Cruz? Pois bem, para conseguir pagar a Argentina, o governo boliviano aumentou<br />
abusivamente os preços dos combustíveis. Vejam só, a incompetência do governo<br />
foi transferida para o bolso dos cidadãos, prática muito conhecida por nós<br />
brasileiros. Os bolivianos organizaram um protesto digno e necessário.<br />
Simplesmente pararam todas as principais estradas do país, e é claro que a nossa<br />
também estava bloqueada. Resultado, não havia meio de ir de ônibus para o Peru<br />
ou para qualquer outro destino. A saída que as agências arrumaram era cruzar o<br />
lago de barco e descer do outro lado, já na costa peruana. Até aí tudo bem, se não<br />
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