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Iracema, mon amour - Cabine Cultural

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2º Dia – Anselmo e Diego na terra do sol<br />

Corumbá/Puerto Quijaro, 29/12/04.<br />

Acordamos cedo. Tomamos um banho para conter o forte calor e para ter<br />

certeza que estávamos realmente acordados. Eram 6h30 e o sol já ardia em<br />

brasa. Tivemos um café da manhã modesto e justo, compatível com o preço da<br />

estadia. Não encontramos o pessoal, porém, o Anselmo, sempre prevenido, já<br />

havia escrito um bilhete para eles. Deixou-o na portaria. Depois de pagar e<br />

conversar com um sujeito muito caricato que aparentemente era o dono do hotel,<br />

nós fomos para o terminal de ônibus urbano. No caminho quase que eu tropeço no<br />

Gregor Samsa. Sério. Uma barata gigantesca estava no nosso caminho, de<br />

barriga para cima e pernas para o ar. No chão ardente de Corumbá, até o<br />

personagem kafkiano morre de insolação. Sem dúvida nenhuma, foi a maior<br />

barata que eu já vi em minha vida. Agora, escrevendo este relato, olho para uma<br />

régua, e digo que a barata tinha algo entre 15 e 17cm de tamanho. Sem exagero.<br />

Era maior que um maço de cigarros.<br />

Esperamos no terminal por uns bons 10 minutos e pegamos o “Fronteira”.<br />

Depois, outros 10 minutos atravessando Corumbá e vendo a bela paisagem<br />

pantaneira proporcionada pelo rio Paraguai e pelas áreas alagadas próximas ao<br />

leito do rio. Atravessamos a fronteira caminhando e foi mais tranqüilo do que<br />

imaginávamos. Ganhamos um visto para 30 dias e negociamos um táxi até a<br />

estação de trem. A porra táxi estava do avesso! Explico. Na Bolívia, não há<br />

indústria automobilística, mas há leis que permitem importação de carros usados.<br />

Portanto, boa parte dos carros velhos da Ásia, do Brasil e Argentina estão na<br />

Bolívia. O táxi que pegamos era de marca japonesa, país onde a direção era do<br />

lado direito, como nos carros britânicos. Simplesmente havia uma gambiarra<br />

<strong>mon</strong>stro e o carro estava do avesso. O painel era na direita, e a direção foi<br />

colocada num buraco, à esquerda. As marchas ficaram todas invertidas, óbvio,<br />

pois eram feitas para serem trocadas com a mão esquerda. Mas o nosso lacônico<br />

motorista parecia não se importar com este pequeno detalhe conceitual, tocou em<br />

frente.<br />

As primeiras imagens e impressões da Bolívia me decepcionaram. Era muito<br />

mais pobre, muito mais suja, muito mais carente e muito mais caótica que eu<br />

pintava em minha imaginação. Puerto Quijaro revelou-se um dos locais mais<br />

pobres e feios que eu já passei. Trabalhando, eu já estive em favelas paulistanas<br />

em Sapopemba e Guaianases na zona leste, estive também em Heliópolis e<br />

Engenheiro Marsilac, na zona sul; mas nunca havia passado por alguma coisa<br />

parecida com Puerto Quijaro. A pobreza e a carência são ultrajantes. A quantidade<br />

de lixo acumulado nas ruas e em todos os estabelecimentos é absurdamente<br />

exagerada. Tudo isto sob um sol de mais de 35º, sete e pouco da manhã. Como<br />

sabemos, lixo orgânico exposto ao calor, se deteriora e fede. Fede muito. A cidade<br />

fedia a lixo, esgoto a céu aberto, suor e poeira. A maldita garrafa PET merece um<br />

capítulo à parte. São visíveis em todos os lugares e direções possíveis. Como<br />

uma verdadeira praga bíblica, elas infestam e contaminam tudo, se alastrando por<br />

todos os cantos da Bolívia. E o saldo desta equação macabra é gente. O que<br />

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