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Iracema, mon amour - Cabine Cultural

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momento do filme, depois de muita pasmaceira e uma avalanche de lugarescomuns,<br />

guerrilheiros do Sendero Luminoso começam a rodear a fazenda<br />

planejando uma invasão, todos muitíssimos caricatos, com cara de mau e lenços<br />

vermelhos em seus pescoços, quase cômicos. O líder deles era um sujeito<br />

hediondo, um banguela que carregava uma bandeira vermelha em um braço e um<br />

fuzil no outro. Depois de um conflito armado, no faroeste final, morrem todos os<br />

guerrilheiros malvados e alguns trabalhadores honestos; sobrevivem El Patrón,<br />

sua jovem filha bela e sonhadora, o namorado dela, e também a índia mucama.<br />

Um filme chapa-branca. Exalta e defende valores como “trabalho honesto”,<br />

“prosperidade” e “respeito”. Nada contra estes valores, pelo contrário, o problema<br />

é que o filme passa por cima de outros valores, como a exploração do trabalho<br />

humano e o respeito aos índios, para exaltar os já mencionados. E, se não<br />

bastasse, o filme ainda abusa de clichês, lugares-comuns e estereótipos. A<br />

“mensagem final” é clara, uma dispensável defesa da propriedade privada. Filme<br />

idiota para espectadores idiotas. Dormi.<br />

Acordei já bem próximo de Lima, e a visão não foi nada agradável. Soldados<br />

pararam o busão e fizeram uma revista procurando drogas. Truculentos chegaram<br />

e truculentos saíram. Logo na entrada já deu para sacar que Lima era grande e<br />

pobre, tal como as demais capitais da América Latina. Grandes avenidas, rodovias<br />

largas. Pontes, entradas, saídas e cebolões. Muitos carros, ônibus velhos. Muita<br />

sujeira e muita pobreza. Chegamos pelas beiradas, pela periferia, e com mais de<br />

três horas de atraso. Este é outro ponto muito peculiar na Bolívia e no Peru, os<br />

ônibus nunca saem no horário marcado e sempre se atrasam, muitas vezes a<br />

diferença é de horas. Uma total desorganização e um total desrespeito. A primeira<br />

impressão de Lima foi de uma cidade em colapso estrutural e social, como se<br />

estivéssemos atravessando uma zona de guerra. Pobreza e sujeira saltavam aos<br />

olhos. O trânsito era uma corrida maluca e as ruas estavam tomadas por barracas<br />

e multidões. Acreditem, a cidade de Lima, capital do Peru, não possui rodoviária.<br />

E cada ônibus pára em um lugar diferente do centro. Paramos numa espécie de<br />

25 de março de Lima. Estava uma loucura só, camelôs e muita gente nas ruas, e<br />

nós sem a mínima idéia onde podíamos estar. No centro de Lima, assim como no<br />

centro de La Paz ou São Paulo, a economia informal é dominante. Certa vez eu li<br />

um artigo do Delfim Neto, que pode ser tudo, ter todas os passivos e rabos presos<br />

que conhecemos, mas ainda é um dos caras que mais conhecem a realidade<br />

econômica brasileira. No texto, ele falava da importância da economia informal na<br />

circulação de capitais no mercado interno brasileiro. O peso da economia informal<br />

é muito importante, é imprescindível. Penso que este peso, na Bolívia e Peru,<br />

deva ser tão, ou até mais imprescindível para suas respectivas economias.<br />

Pegamos um táxi e fomos para uma pousada de mochileiros que tínhamos o<br />

endereço conosco. Ficava num bairro chamado Miraflores.<br />

Vimos que Lima, apesar da péssima impressão inicial, tinha alguns atrativos.<br />

A avenida principal era bonita, com prédios antigos bacanas, praças arborizadas e<br />

um atraente parque, com museus, anfiteatro e fontes. O taxista era falastrão e<br />

muito simpático. Não tinha a menor idéia da língua que estávamos falando e<br />

perguntou se éramos americanos. “Não, brasileiros”. Ainda insistiu: “E que língua<br />

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