Iracema, mon amour - Cabine Cultural
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asileiros. Duas meninas de Curitiba e um cara de Piedade, no interior paulista.<br />
Recordo-me apenas que uma das meninas chamava-se Carol, o nome da minha<br />
irmã. A última parte da subida foi bem extenuante, era muito íngreme e com os<br />
degraus bem distante uns dos outros. No último platô antes do cume de Wayna<br />
Picchu, existiam duas possibilidades, o caminho mais abrupto, subindo uma<br />
escadinha estreita e traiçoeira; ou o caminho que dava uma volta e subia por trás,<br />
mais leve e persuasivo. Escolhemos o caminho mais difícil, é claro. “No pain, no<br />
gain”, dizem os gringos. Numa tradução mais que livre, poderíamos dizer:<br />
“ajoelhou, tem que rezar”. Chegamos.<br />
O céu estava aberto e reluzia um azul intocável. A vista era realmente<br />
indescritível. Víamos toda a cidade de Machu Picchu de um lado e a natureza nos<br />
arredores. Procuramos uma sombra e sentamos para nos recompor. Tiramos<br />
nossas meias, calçados e camisetas. O calor ardia e refletia nas pedras do topo<br />
da <strong>mon</strong>tanha rochosa. Minha camiseta estava molhada de suor e aproveitei para<br />
esticá-la sob o sol. O Anselmo chegou até a dormir por uns bons 15 minutos.<br />
Depois de um tempo sentados sendo devorado por pernilongos, subimos pelas<br />
pedras até a última ponta da <strong>mon</strong>tanha. Não havia mais escada, e era tudo na<br />
base da raça e coragem mesmo. Brincava com meus amigos: “se minha mãe<br />
souber que eu estou aqui, vou tomar uma bronca”. E de fato, o coração da minha<br />
mãe deve ter palpitado de forma diferente. O instinto materno muitas vezes é<br />
capaz de sentir quando o filho está em perigo. As pedras estavam quentes e os<br />
passos tinham que ser lentos e, como diria o Chapolin, friamente calculados. Sim,<br />
estávamos no topo de toda a região de Machu Picchu, não havia como ir mais<br />
alto. Somente de avião, helicóptero ou, como acreditam alguns, de disco-voador.<br />
E toda a vez que eu ver alguma foto ou imagem de Machu Picchu, vou poder me<br />
encher de orgulho e dizer: “Eu subi lá no topo”. Lá na ponta do nariz do indião.<br />
Praticamente a catota da napa do indião. Sim, eu consegui. Fui lá. E agora eu<br />
queria descer.<br />
Juntamente com os outros brasileiros, decidimos seguir uma placa que<br />
indicava um caminho ao templo da lua. Foi uma longa descida, passando por<br />
escadas de madeira, trilhas escorregadias e caminhos quase completamente<br />
tomados pela mata. Andamos mais de uma hora até chegar ao tal templo da lua,<br />
que deveria ser muito interessante se não estivesse completamente pelado, sem<br />
estátuas e ornamentos. Hoje não passa de um buraco escavado entre as rochas,<br />
com alguns altares e outras pedras espalhadas. O lugar era escuro e emanava um<br />
forte cheiro de urina, certamente deixado por turistas vândalos. Sentamos, tiramos<br />
umas fotos, conversamos um pouco partimos. Seguimos a trilha indicada, e não<br />
aquela que usado para chegar. Agora sim. Foi nesta volta justamente o trecho<br />
mais complicado. Subíamos trilhas e escadas que pareciam não ter fim. Nunca<br />
tinha me cansado daquela maneira e, por mais de uma vez, achei que não<br />
fossemos conseguir chegar ao fim. Estávamos todos mortos e uma das meninas<br />
chegou até a chorar. Parávamos a cada 10 minutos de caminhada e eu sentavame<br />
de cócoras, tentando recuperar meu fôlego. Nossa água tinha acabado e já<br />
começávamos a fazer piadas da nossa condição. “Hoje nós vamos ter que ser<br />
resgatados”, dizia um. “Vamos sair nos jornais”, respondia outro. Meu coração<br />
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