seriam cancelados, não teria risco de falsificação e também que iram fazer uma reclamação formal, numa esfera mais alta, nível ministerial, coisa e tal. Na embaixada mesmo fizeram-nos um salvo-conduto e abandonamos nossos passaportes. Mesmo que decidíssemos pagar a “multa”, não poderíamos. Já se passavam das 16h30 e a Migración estava fechada. Detalhe, eles trabalham das 11 às 16h30, parando por mais de uma hora de almoço, afinal ninguém é de ferro. Se quiséssemos reaver os passaportes teríamos que esperar até segunda, e iria atrasar muito a viagem, já que estávamos na sexta. É claro que ficamos chateados por perder nossos passaportes, mais pelo um valor sentimental e simbólico. O dia transcorreu rapidamente com as ocupações burocráticas e a noite já saía carregando as estrelas e o frio. Restava-nos apenas uma única coisa a fazer, beber. Caímos num mesmo local que já havíamos estado antes. Um boteco copo sujo, bem boliviano. Todas as vezes que passamos por lá, éramos os únicos forasteiros. Para mim, isto é um bom sinal. Éramos finalmente tratados como pessoas normais e não como turistas gastadores, falastrões e desastrados. Decoração tosca, músicas locais, banheiro imundo, serviço preguiçoso, cinzeiros transbordando, névoas de fumaça, homens sem muito futuro, mulheres com muito passado e cerveja gelada a um preço digno. Bares assim, com esse clima, há em todos as cidades, ainda bem. Bebemos, voltamos ao hotel, tomamos um banho e para não deixar o desânimo imperar, saímos para dar umas bandas e beber mais um pouco, mesmo embaixo de chuva e enfrentando o frio. Passamos rapidamente por um barzinho ajeitado chamado Luna. Estava vazio, mas, como já estávamos confortavelmente sentados, tomamos umazinha. Zarpamos descendo o Paseo de El Prado olhando os tipos notívagos da fauna paceña. Como em muitos outros lugares do mundo, a noite é dominada pelos jovens. Já não havia muitos turistas como da primeira vez, mas La Paz é definitivamente uma cidade interessante. Compramos numa bodega algumas cervejas Bock e fizemos o caminho de volta. Já na rua do hotel uma faixa nos chamou a atenção. Era um anuncio de um bar chamado Pachamama, que dizia ter música ao vivo e cerveja barata. Comentei com o Anselmo que vários locais têm a palavra “mama”. É curioso. Não perdi mais que 37 segundos especulando, estava sem disposição. Viva o matriarcado! Entramos no bar. Mais se parecia com um salão de dança do que um bar. Tinha mesas dispostas em semicírculo e no meio uma pista de dança, bem em frente ao palco onde uma banda de músicas típicas bolivianas se apresentava. Deviam ser músicas bem conhecidas, pois muitos cantavam junto com a cantora. E assim, ao vivo e em cores, a música boliviana não é tão ruim quanto soava nos rádios. O violão e outro instrumento já mencionado nesse relato, um “cavaquinho” de seis cordas duplas, faziam o acompanhamento e marcavam o ritmo nas batidas e passadas. A percussão era bem discreta, feita por uma bateria eletrônica. E os solos eram executados por uma flauta nativa, daquelas que estamos acostumados a ver sendo envergada por bolivianos e peruanos no centro de São Paulo. O vocal feminino estava entrosado com a banda e afinado, utilizando alguns falsetes, sustentava os prolongamentos. E tudo isso junto era agradável, serviu para 66
desfazer a péssima impressão que tínhamos da música local. Conversamos, bebemos, e quando o sono bateu forte, voltamos ao hotel. 67
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seus valores perdidos. E também ai
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