Iracema, mon amour - Cabine Cultural
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Depois de uma pesquisa de preços e condições dos hotéis, encontramos um<br />
com banheiro privativo, camas boas e preço justo. Saímos para tomar nosso<br />
desayuno e iniciar a exploração da cidade. A primeira parada foi Qorikancha, ou<br />
Igreja de Santo Domingo. Lá era a sede do império inca e ainda há muita coisa da<br />
arquitetura inca clássica. Este tipo de arquitetura é o mais refinado e impressiona<br />
pela precisão milimétrica. Não há cimento, ou outro tipo de rejunte, apenas<br />
encaixes perfeitos. São tão perfeitos que não são visíveis. As pedras são<br />
recortadas em diferentes formas geométricas. São todas lisas e, em alguns<br />
lugares, todas simétricas. As portas e janelas são em forma trapezoidal, sendo<br />
que esta maneira de construção é a mais resistente aos terremotos. Os templos<br />
que formavam o centro do governo inca foram categoricamente destruídos, mas<br />
ainda restou muita coisa. E por sobre e entre estas ruínas e muros, os espanhóis<br />
construíram uma igreja colossal e um mosteiro. No pátio central podemos ver<br />
algumas salas remanescentes dos incas, uma fonte e altares. Do lado de fora, há<br />
ainda muitos muros e fortificações também incas. O jardim dos imperadores incas<br />
foi assassinado e hoje não passa de um imenso gramado com pedras. Em 1950,<br />
Cuzco sofreu um violento abalo sísmico. Muitas construções espanholas ruíram,<br />
enquanto as construções incas ficaram todas em pé. Santo Domingo tem uma<br />
história interessantíssima, dividida em três partes: antes dos espanhóis, depois<br />
dos espanhóis e depois do terremoto. Há partes espanholas remanescentes do<br />
século XVI, há partes recentes que foram construídas depois do terremoto e há os<br />
setores incas que resistiram ao ataque espanhol e ao forte tremor.<br />
O choque entre culturas deve ter sido algo muito forte, inimaginável nos dias<br />
de hoje. A imposição do catolicismo e do modo de vida europeu foi brutal. Foi uma<br />
luta em todos os campos, inclusive no campo simbólico. Para impor sua cultura,<br />
os espanhóis tiveram que construir algo à altura dos incas. Por isso, as igrejas são<br />
enormes e imponentes. Tinham que dar o troco na mesma moeda. A catedral de<br />
Cuzco é o terceiro maior templo católico do mundo, perdendo apenas para as<br />
catedrais de Aparecida do Norte e de São Pedro, no Vaticano. As medidas<br />
desproporcionais não são ao acaso, os invasores europeus tinham que mostrar<br />
para os nativos e para eles mesmos, seu poderio, sua força. Uma necessidade de<br />
auto-afirmação diante de uma cultura tão diferente e tão desenvolvida. Não<br />
podendo co-existir em comunhão com a diferença, os “colonizadores” exploraram,<br />
estupraram e destruíram os diferentes. O que aconteceu na América Latina foi o<br />
maior genocídio da história da humanidade. Assassinaram não apenas homens e<br />
mulheres, também suas diferentes culturas.<br />
Depois da nostálgica Qorikancha, fomos ao Museu Inka. No caminho<br />
passamos mais uma vez pela espetacular Plaza das Armas, a belíssima praça<br />
principal. Em seu entorno há igrejas, universidade, museus, restaurantes, bares e<br />
lojas. Dezenas das ruas estreitas confluem na Plaza das Armas, fazendo com que<br />
ela seja passagem obrigatória. Não importa para onde íamos, sempre<br />
passávamos por lá. A catedral, como já disse, é gigantesca. Sua nave central é<br />
desproporcional e, evidentemente, ela é decorada da maneira mais luxuosa<br />
possível. Muita prata, ouro e esculturas em pedras, bronze e madeira. Hei de<br />
admitir que os espanhóis fizeram um bom trabalho tocando seu projeto de<br />
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