Iracema, mon amour - Cabine Cultural
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Sentamos numa mesa de metal e pedimos uma variante inédita da Paceña, a<br />
Tropical. Entornamos os copos com facilidade, o clima contribuía. Uma tevê<br />
gigantesca no interior do bar estava passando algum show de música<br />
profundamente irritante, com o barulho nos incomodando e impedindo nossa<br />
conversa. Caímos fora e fomos beber dentro da rodoviária mesmo. Demos sorte,<br />
pois nas tevês de lá estavam transmitindo um jogo ao vivo do Real Madrid.<br />
Compramos uns pães de queijo e ficamos prestigiando o time de Zidane, Ronaldo,<br />
Beckham, Figo, Raul derrotarem seu adversário por 3 X 1. O jogo caiu como uma<br />
luva e o tempo passou despercebido, quando acabou já estava praticamente na<br />
hora de embarcar.<br />
Quando estávamos seguindo para a plataforma de embarque, passamos em<br />
frente ao guichê do trem e o funcionário nos chamou. “Duas pessoas desistiram<br />
da viagem e os locais estão vagos, querem?” É lógico que aceitamos! Foi uma<br />
cagada providencial! Cagada nos dois sentidos. Explico. Pouco antes de<br />
embarcar, eu e o Anselmo demos uma passada no banheiro para cagar e evitar<br />
que sentíssemos vontade no busão. Acontece que por um vacilo meu, acabei<br />
derrubando – depois de me limpar, ainda bem – nosso papel no vaso sanitário.<br />
Não queríamos de maneira alguma embarcar numa viagem de um dia inteiro sem<br />
papel higiênico, então fomos comprar outro. E foi logo depois de comprar o papel,<br />
quando passávamos em frente do guichê, o cara nos chamou. Contamos nosso<br />
dinheiro e vimos que faltava. Enquanto o Anselmo ficou no guichê segurando as<br />
passagens, eu saí em disparada para tentar devolver nossas passagens de ônibus<br />
e recuperar nossa grana. O ônibus já estava na plataforma, pronto para partir. Não<br />
queriam devolver o dinheiro de jeito nenhum, mesmo porque tinha um aviso<br />
expresso dizendo que só aceitavam devoluções de passagens com duas horas de<br />
antecedência. Já estava me conformando e desistindo quando entrou em cena um<br />
senhor baixinho esbaforido e todo suado. Queria embarcar. Vendi uma das<br />
minhas passagens para ele e recuperei pelo menos a metade da grana. Já era o<br />
suficiente para pagar o restante dos bilhetes do trem. Voltei correndo feito um<br />
louco pela rodoviária, me desviando de malas e pessoas por todos os lados.<br />
Encontrei o Anselmo e compramos as passagens de Ferrobus. Sorte, muita sorte.<br />
O trem já estava apitando, impaciente. Entramos. O vagão não era lá tão<br />
deslumbrante quanto haviam nos dito, mas era sim infinitamente melhor que o<br />
Trem da Morte. O ar-condicionado era uma benção e foi fácil nos acomodar nas<br />
poltronas reclináveis. O serviço de bordo era regular e nos serviram frango com<br />
molho agridoce. Nada a ver. Tentaram fazer algo refinado, com sotaque francês,<br />
sei lá, mas erraram feio. Teve ainda chá e bolachas. Bom, ao menos tive a<br />
oportunidade de assistir ao pior filme da carreira do Robert De Niro. Chama-se<br />
Showtime e ele contracena com o Eddy Murphy. É um péssimo filme, com uma<br />
péssima história. Um desperdício de talentos e dinheiro. Teve ainda outra sessão<br />
com uma comédia idiota muito mais risível que o filme anterior. O ar-condicionado<br />
gelou e só consegui dormir depois de me cobrir com meu poncho boliviano.<br />
Capotei.<br />
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