Iracema, mon amour - Cabine Cultural
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6º Dia – Uma ou duas voltas no tempo<br />
La Paz/Tiwanaku, 02/01/05.<br />
Fomos despertados a pedidos. Eram 8h00 em ponto quanto tocou o telefone<br />
do quarto. Lá fora caía uma forte chuva. Bateu um desânimo forte. Frio até vai<br />
bem, mas chuva é foda. Banho. E começamos a cogitar a hipótese de fazermos<br />
um programa indoor, museus, igrejas, galerias, sei lá. O planejamento inicial era<br />
uma visita às ruínas de Tiwanaku. Saímos para um desayuno e a chuva foi<br />
perdendo sua intensidade. Foda-se, dissemos, vamos para lá.<br />
Pegamos um microônibus até o cemitério. Lá, além de passagem para o céu<br />
(ou para o inferno), também havia passagens para muito outros lugares. As ruas<br />
do entorno serviam também de ponto de embarque e desembarque. Entramos<br />
numa lotação que fazia jus ao seu nome, simplesmente abarrotada. Parando a<br />
todo o momento para entrar e descer gente, encaramos 70 km até Tiwanaku.<br />
Havia mais três turistas na van, um casal de americanos e um italiano que falava<br />
espanhol perfeitamente. Sair da capital boliviana é uma experiência muito<br />
interessante, é uma subida constante e do caminho podemos ver perfeitamente o<br />
buraco onde a cidade foi construída. Passamos novamente pela Ciudad de El Alto.<br />
Vimos o Illimani pela primeira vez. Foi só o tempo abrir e as <strong>mon</strong>tanhas nevadas<br />
se apresentaram majestosamente. Como se alguém tivesse aberto uma cortina<br />
para o espetáculo começar. Já vi o Cristo Redentor, a Torre Eifel, a estátua da<br />
Liberdade, o Maracanã, mas nenhuma primeira visão me arrebatou tanto quanto o<br />
Illimani. Emocionante.<br />
O percurso passava por pequenos povoados pobres e por casas de<br />
agricultores. É impressionante como a terra é desértica. São raríssimas as<br />
plantações e escassas as criações de animais. Quando em vez deparamos com<br />
algumas roças de batatas e algumas poucas lhamas, ovelhas ou porcos. A<br />
estrada também tinha a macabra decoração de cruzes nas suas laterais.<br />
Chegamos a Tiwanaku e compramos o pacote completo, B$25,00 por dois<br />
museus e três sítios arqueológicos. O local é patrimônio histórico mundial tombado<br />
pela Unesco e os museus foram construídos com grana do BID. Mas na Bolívia<br />
estas credenciais não significam necessariamente sinônimo de boa infra-estrutura.<br />
Os museus são pequenos, contêm poucas informações seus acervos são<br />
paupérrimos. Quase nada é bilíngüe. No entanto, a carência não tira o encanto da<br />
civilização soterrada pelos anos e pelo descaso histórico.<br />
Tiwanaku hoje é uma cidade feia, suja e decadente. Todavia, há milhares de<br />
anos atrás, o local abrigou uma civilização pré-inca. Chegou a ser a maior cidade<br />
da América pré-colombiana, com mais de 60 mil habitantes. A civilização<br />
Tiwanaku, segundo alguns historiadores, pode ter originado todo o grandioso povo<br />
inca. Didaticamente, o museu dividiu a existência do povo em três fases: período<br />
de aldeia (1.500 a.C. – 45 d.C.), período urbano clássico (45 d.C. – 700 d.C.) e<br />
período expansivo (700 d.C – 1.200 d.C.). Há indícios que uma devastadora seca<br />
por volta de 1.100 d.C. tenha iniciado a decadência da civilização. Antes da seca,<br />
a produção de alimentos dava para abastecer toda sua população e ainda havia<br />
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