Iracema, mon amour - Cabine Cultural
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15º Dia – Redescobrindo o bagaço<br />
Lima, 11/01/05.<br />
Dormimos e acordamos num forno. O quarto era bem apertado e ficava com<br />
suas paredes e teto expostos ao sol o dia todo. As duas frestas da janela não<br />
refrescavam muita coisa. Lima, situada ao nível do mar, fica na mesma latitude<br />
que Salvador e faz um calor tão forte e baiano quanto. Antes de sair para o<br />
supermercado e comprar nosso café da manhã, ainda retiramos as roupas do<br />
varal, secas e esturricadas. Algumas até bem duras. A máquina de lavar da Sra.<br />
Noriega foi um bom negócio, eu e o Anselmo estávamos com pouquíssimas<br />
roupas limpas. O calor apertava e já me fazia temer por um dia tão quente como<br />
em Puerto Quijaro. Sempre prestativa e atenciosa, a Sra. Maria Noriega não só<br />
nos ensinou qual ônibus deveríamos pegar para irmos até o centro, como também<br />
nos levou ao ponto, parou o busão e deu orientações ao motorista. Ficamos um<br />
pouco constrangidos, mas não cortamos o barato dela. O bumba fez um caminho<br />
completamente diferente do táxi do dia anterior e deu para sacar que Miraflores é<br />
praticamente outra cidade, completamente distinta de Lima. Passeios de ônibus<br />
em cidades que não conhecemos são proveitosos. Presenciar o cotidiano das<br />
pessoas trabalhando, andando, indo e vindo – por mais banal que possa ser – em<br />
uma cidade desconhecida, é sempre uma experiência bacana.<br />
Descemos no local indicado pela Sra. Noriega, perto que de um grande hotel<br />
de uma cadeia internacional. Andamos em uma rua transversal à avenida principal<br />
até a agência onde poderíamos comprar passagens de volta. Nossa intenção era<br />
ir até Arequipa. Poderíamos sair no dia seguinte, de noite, chegar em Arequipa<br />
pela manhã, aproveitar a praia de lá e zarpar para La Paz de noite. Compramos a<br />
passagem em um local e teríamos que embarcar em outro. Como já disse, por<br />
mais irracional que possa soar, Lima não tem rodoviária e cada agência tem uma<br />
garagem em algum lugar da cidade, que serve de ponto de embarque e<br />
desembarque. Sempre a pé, e sempre envoltos em uma bruma de calor, andamos<br />
até o parque onde ficava o Museu de Arte de Lima. O Parque de Exposición foi<br />
construído para uma grande feira mundial que aconteceu em Lima no ano de<br />
1872. La Paz tem o Mirador Laikakota; Berlim, o Tiergarten; Nova Iorque, o<br />
Central Park; São Paulo, o Ibirapuera; e Lima, o Parque de Exposición. O parque<br />
é bem cuidado, com vielas e alamedas floridas, árvores frondosas, fontes,<br />
lanchonetes e bem vivo, como devem ser todos os parques. O local estava<br />
vibrante, tomado por famílias, casais de namorados e adolescentes. Era uma<br />
alegria visível, pulsátil, e senti-me muito bem com a energia que circulava por lá. O<br />
museu era do tipo arquitetônico “bolo de noiva”, todo simétrico, com marquises<br />
que pareciam babados e ornamentos que se assemelhavam a confeitos. Um ótimo<br />
museu, com um acervo relativamente pequeno, espalhado em apenas um andar,<br />
porém muito abrangente e consistente. Conseguimos ter um excelente panorama<br />
das artes peruanas, pré-colombianas e pós. Belo passeio.<br />
Tão ou mais belo que o museu, foi o seu subsolo. Lotado de salas de aula e<br />
lotado de jovens e crianças. Havia diversos cursos e oficinas acontecendo ao<br />
mesmo tempo. Pintura, cerâmica, desenho, fotografia, bijuterias, e muitas outras<br />
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