Iracema, mon amour - Cabine Cultural
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insanidade. Perigosíssimo. Não há faixa de pedestre, semáforos ou passarelas.<br />
Sobrevivemos.<br />
Adianto e digo que a praia é feia. Aliás, bem feia. É uma praia de pedras,<br />
com uma faixa de areia muito estreita. Não há calçadas, quiosques,<br />
estacionamentos, banheiros, salva-vidas e nenhuma outra estrutura turística ou<br />
comercial. A maior diferença que eu notei entre o Atlântico e o Pacífico é o<br />
horizonte. O oceano Pacífico não tem linha do horizonte. Dificilmente dá para<br />
diferenciar onde termina a água e começa o céu, e vice-versa. Além das<br />
tonalidades próximas, há também uma névoa, como se alguém tivesse passado<br />
um esfuminho na linha do horizonte. A água não é gelada, afinal estávamos<br />
praticamente em Salvador. Porém, a água é mais salgada. Notavelmente mais<br />
salgada. As pedras do solo são de um tamanho propício para machucar os pés e<br />
causar tombos. Quase todos os surfistas que se aventuravam no mar estavam<br />
com aqueles calçados especiais de neoprene ou sandália de borracha. Entramos<br />
na água e nos arriscamos em alguns jacarés. Depois da praia, passeamos pelo<br />
bairro, passando por um sofisticado clube de tênis e por uma galeria à beira-mar<br />
infestada de redes de fast-food, fliperamas e outras bobagens que todos nós em<br />
diferentes momentos da vida – ou durante a vida toda, depende de cada um –<br />
adoramos. Voltamos para tomar um banho e saímos para jantar. O papo<br />
temperado com algumas cervejas foi do ríspido ao confessional. O Anselmo é uma<br />
das únicas pessoas que eu consigo discordar em alto e bom som sem que isto<br />
prejudique nossa amizade. O respeito mútuo e a história de mais 15 anos falam<br />
mais alto. Terminamos a conversa numa boa, falando de nossos amores. A<br />
Marina nunca esteve tão presente como nesta noite. As pessoas que mais se<br />
fazem presentes são justamente as mesmas que sentimos mais falta. É o<br />
paradoxo da saudade.<br />
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