Dissertação - Programa de Pós-graduação em Educação / UEM
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Embora, no Almanaque a personag<strong>em</strong> Jeca Tatu tenha no final da história se<br />
transformado <strong>em</strong> um rico fazen<strong>de</strong>iro, um provável ex<strong>em</strong>plo a ser seguido pela<br />
população rural, o que ficou <strong>de</strong> fato presente na mente <strong>de</strong>ssas pessoas foi a<br />
imag<strong>em</strong> inicial do Jeca, antes <strong>de</strong> tornar-se fazen<strong>de</strong>iro. Um hom<strong>em</strong> que <strong>de</strong> acordo<br />
com Lobato “era um pobre caboclo que vivia no mato, numa casinha <strong>de</strong> sapé [...]<br />
passava os dias <strong>de</strong> cócoras [...] s<strong>em</strong> ânimo <strong>de</strong> fazer coisa nenhuma” (LOBATO,<br />
1950, p. 1). Embora o Jeca, no transcorrer da história passe por um processo <strong>de</strong><br />
transformação, que viria a proporcionar-lhe um futuro próspero, é a primeira<br />
imag<strong>em</strong> que fica no imaginário coletivo.<br />
Em 1920, quando o primeiro ex<strong>em</strong>plar do Almanaque foi lançado, o país<br />
passava por um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e progresso que estava pautado<br />
na educação e saú<strong>de</strong>. Era preciso educar a população e paralelo a isso curá-la<br />
das mazelas comuns da época, que eram as doenças típicas dos trópicos, como<br />
por ex<strong>em</strong>plo, a <strong>de</strong>snutrição e a an<strong>em</strong>ia. Segundo Lopes (2002, p. 21):<br />
Tal publicação se inscreve no projeto <strong>de</strong> reforma e <strong>de</strong> civilização<br />
do Estado brasileiro no início do século XX, com vistas à formação<br />
<strong>de</strong> pessoas sadias, moralmente aptas e úteis para a construção do<br />
progresso. De caráter pedagógico e „esclarecido‟, este almanaque<br />
serviu b<strong>em</strong> os objetivos políticos explicitados, tendo como<br />
personag<strong>em</strong> <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> tais propósitos o „ Jeca Tatuzinho‟<br />
<strong>de</strong> Monteiro Lobato.<br />
Minha hipótese é a <strong>de</strong> que ao se apropriar dos i<strong>de</strong>ais políticos que<br />
circulavam nos discursos progressistas para a nação e enquadrá-lo <strong>de</strong> modo<br />
subjetivo no texto <strong>de</strong> Jeca Tatuzinho, Lobato intencionalmente ou não, conseguiu<br />
criar uma ferramenta capaz <strong>de</strong> produzir uma representação e uma m<strong>em</strong>ória do<br />
sertanejo. Neste sentido, minha hipótese é a <strong>de</strong> que o Almanaque contribuiu para<br />
a produção <strong>de</strong> uma representação do sertanejo, transformando-a <strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória<br />
coletiva.<br />
Mas, será que essa imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> sertanejo condizia com a realida<strong>de</strong> física e<br />
social <strong>de</strong> todos os homens que viviam no ambiente rural daquela época? Minha<br />
hipótese é <strong>de</strong> que não correspon<strong>de</strong>ria. Por que então a representação do<br />
sertanejo como doente e vitima das mazelas sociais se propagou?