Dissertação - Programa de Pós-graduação em Educação / UEM
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4.3 OS LIMITES DA INTERPRETAÇÃO<br />
- 73 -<br />
Construir uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamento único a respeito <strong>de</strong> um texto é algo<br />
praticamente impossível. Afinal, o texto esta diante do impulso cooperativo dos<br />
mais variáveis e incontáveis leitores que exist<strong>em</strong> e suas interpretações que<br />
muitas vezes diverg<strong>em</strong> entre si e entre o próprio texto que teve <strong>de</strong> base. Mas,<br />
afinal, como po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r essas interpretações feitas pelos leitores? O<br />
campo interpretativo possui limites?<br />
Assim como a história da leitura, eu diria que po<strong>de</strong>ríamos escrever também<br />
a história da interpretação. Uma não existiria s<strong>em</strong> a outra, mas à luz <strong>de</strong>ssa<br />
relação não é objetiva e trava diferentes posições teóricas no campo <strong>de</strong> estudos<br />
da leitura, sob olhares que por um lado a compreen<strong>de</strong> como um conjunto <strong>de</strong><br />
habilida<strong>de</strong>s invariáveis e por outro, variáveis a ponto <strong>de</strong> não ter<strong>em</strong> seus limites<br />
estabelecidos. Autores recentes como Jacques Derrida e Umberto Eco <strong>de</strong>slocam<br />
seus estudos e preocupações acerca da leitura percorrendo caminhos opostos.<br />
Enquanto o primeiro vê o texto como um “conjunto <strong>de</strong> signos” e, portanto<br />
interpretá-lo seria “tecer um tecido com os fios extraídos <strong>de</strong> outros tecidos-textos”,<br />
o segundo comunga da idéia que há diferenças entre “usar” um texto e<br />
“interpretá-lo”, pois, à medida que o uso amplia os sentidos <strong>de</strong> um texto, a<br />
interpretação por outro lado, respeita a coerência <strong>de</strong>ste.<br />
Essas duas maneiras <strong>de</strong> estudar os efeitos abstratos do texto tornam-se<br />
eficazes para o propósito <strong>de</strong>ste trabalho, visto que, a adoção <strong>de</strong>sses<br />
pressupostos serviram <strong>de</strong> base, mesmo que indiretamente, para a realização dos<br />
trabalhos que foram consultados para fazer parte do corpus <strong>de</strong>ssa pesquisa. S<strong>em</strong><br />
contar que, <strong>em</strong>bora diferentes uma da outra tanto a teoria <strong>de</strong> Derrida (1973)<br />
quanto a <strong>de</strong> Eco (1991), <strong>em</strong> alguns momentos converg<strong>em</strong> entre si.<br />
Para Eco (1991, p. 60), “[...] o texto é uma mensag<strong>em</strong> fundamentalmente<br />
ambígua, uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significados que conviv<strong>em</strong> num só significante”, por<br />
isso suas interpretações são inesgotáveis e atualizadas cada vez que alguém o<br />
lê. Supõe Eco (1991, p. 60) que a palavra “é aquilo que s<strong>em</strong>pre nos faz conhecer<br />
algo mais”, não trata apenas <strong>de</strong> substituições <strong>de</strong> termos ao longo da construção<br />
<strong>de</strong> um texto, mas, como parte imaginaria do autor, dispõe <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s