Dissertação - Programa de Pós-graduação em Educação / UEM
Dissertação - Programa de Pós-graduação em Educação / UEM
Dissertação - Programa de Pós-graduação em Educação / UEM
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
- 62 -<br />
4.2 UNINDO OS ELEMENTOS: LOBATO & FONTOURA E UM CERTO JECA<br />
TATUZINHO<br />
Atentando à ênfase no Almanaque Biotônico Fontoura não apenas como um<br />
livreto <strong>de</strong> divulgação medicamentosa, mas como material <strong>de</strong> leitura que norteou a<br />
criação <strong>de</strong> novos hábitos e costumes cito um <strong>de</strong>poimento retirado <strong>de</strong> Park (1999,<br />
p. 147-148):<br />
Meu pai era colono da Fazenda <strong>de</strong> café lá prás banda <strong>de</strong> Agudo.<br />
Minha mãe cuidava da casa. Foi escrava. Minha avó veio <strong>de</strong><br />
Angola pra cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>, no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Naquele t<strong>em</strong>po<br />
lá era tudo fazenda. Minha mãe era marcada a ferro no seio. A<br />
sinhá sabe que era costume? Era sim. As bonita. As patroa tinha<br />
ciúme e mandava marcá... Tanto meu pai como minha mãe, não<br />
estudaro. Tudo o que ensinava era falando. Mas levaro os filho<br />
prá escola. Todos. Leva levaro. A primeira vez que vi um<br />
armanaque foi no orfanato. Acho que era 1928. Eles mostrava<br />
prás criança, prá num andá discarça. O que era <strong>de</strong> mais interesse<br />
era a história do Jeca Tatu. A professora aproveitava...<br />
Lá se usava os r<strong>em</strong>édio indicado nele. No orfanato tinha o livro<br />
Sagrado e o armanaque. A professora ensinava a chave. Eu<br />
quero dizê, as letra. Elas acaba sendo a chave, s<strong>em</strong> elas ocê num<br />
entra. Num lê. Aí eu procurava as letra no armanaque. Quando eu<br />
cresci, fui trabalhá <strong>em</strong> São Paulo, na casa da Familia Mello. Meu<br />
serviço era <strong>de</strong> page. Ouviu falá? Eu cuidava dos filho <strong>de</strong>les.<br />
Lavava, trocava e levava prá escola, a pé. Naquele centrão <strong>de</strong><br />
São Paulo, on<strong>de</strong> hoje, só t<strong>em</strong> prédio. Era tudo casa, mato, tinha<br />
bon<strong>de</strong>. O caradura era bon<strong>de</strong> on<strong>de</strong> ia os pobre. De pé. Era muito<br />
mais barato que os outro. Lá tamém tinha o armanaque. Como ele<br />
tinha muito <strong>de</strong>senho eu usava prás criança estudá, copiando as<br />
palavra e olhando nos <strong>de</strong>senho. Fazia lição com Jeca Tatu. Prá<br />
ensiná as palavra do armanaque. Essa família me levou conhecê<br />
Campos do Jordão, Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Eu viajava com eles. Me tratavam como iguá... Aí eu casei e fui<br />
pro sítio prantá. Fui <strong>em</strong>bora. Casei. E o jeito era o armanaque. O<br />
único lugar prá saber quando e o que prantá<br />
N<strong>em</strong> é só isso. E nome pros filho? Tirado do Livro Sagrado e dos<br />
armanaque. As criança andava tudo carçada. Aprendi lá. Prá não<br />
dá bicho... Tudo a gente olhava nele.<br />
Eles davam na Farmácia. Era só comprá quarqué coisinha e vinha<br />
armanaque. Pelo que l<strong>em</strong>bro ele tinha s<strong>em</strong>pre uma capa iguá.