Dissertação - Programa de Pós-graduação em Educação / UEM
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Preguiçoso, <strong>em</strong> Jeca fazen<strong>de</strong>iro trabalhador, como também, chama atenção às<br />
próprias transformações sociais e políticas daquela época. De uma forma objetiva<br />
essa reestruturação discursiva <strong>de</strong> Lobato (1950) contribuiu para <strong>de</strong>slocar o olhar<br />
para outra perspectiva da condição do sertanejo.<br />
Essa outra faceta marca não apenas a nova vertente do autor como<br />
também atua diante <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais científicos e pedagógicos que protagonizaram o<br />
período. Em relação a esta segunda, não quero chamar atenção para a forma<br />
como o governo, através da educação, interveio nas práticas culturais do<br />
sertanejo, mas refletir um pouco mais a respeito da expansão apreciativa do<br />
Almanaque Biotônico Fontoura no cenário educacional brasileiro <strong>em</strong> uma época<br />
<strong>de</strong> fortes discussões a respeito da importância da educação escolar como<br />
garantia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Isso reafirma que nas primeiras décadas do século<br />
XX, saú<strong>de</strong> e educação, parec<strong>em</strong> ter se mesclado no <strong>de</strong>senvolvimento do discurso<br />
pedagógico brasileiro.<br />
Como afirmava o próprio autor, “Ciência e arte nasceram para viver juntas,<br />
porque arte é harmonia e ciência é verda<strong>de</strong>. Quando se divorciam a verda<strong>de</strong> fica<br />
<strong>de</strong>sarmônica e a harmonia falsa” (LOBATO, 1994, p. 95). Seguindo esta perspectiva<br />
o Almanaque Biotônico Fontoura assegurava el<strong>em</strong>entos que proporcionavam aos<br />
seus leitores perceber<strong>em</strong> e experienciar<strong>em</strong> diversão e apren<strong>de</strong>r<strong>em</strong> ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po, tendo como princípio norteador a personag<strong>em</strong> fictícia <strong>de</strong> Jeca Tatu, que<br />
tinha uma gran<strong>de</strong> gama representativa do sujeito sertanejo. No almanaque Lobato<br />
não apenas contava, mas recomendava.<br />
Menino! Nunca te esqueças <strong>de</strong>sta história; e, quando fores<br />
hom<strong>em</strong>, trata <strong>de</strong> imitar o Jeca. Se fores fazen<strong>de</strong>iro como teu pai,<br />
trata <strong>de</strong> curar teus camaradas. Além <strong>de</strong> lhes fazeres um gran<strong>de</strong><br />
benefício, farás para ti um alto negócio. Verás que o trabalho<br />
<strong>de</strong>ssa gente produzirá três vezes mais e te enriquecerá muito<br />
mais <strong>de</strong>pressa (LOBATO, 1950, p. 12).<br />
No âmbito da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização, Lobato explicava aos leitores,<br />
através do Jeca, e com vocabulário simples, todo o ciclo <strong>de</strong> contaminação e<br />
reprodução do parasita Ancylostoma duo<strong>de</strong>nale responsável pelo popularmente