Dissertação - Programa de Pós-graduação em Educação / UEM
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A visão que prevalecia <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte da socieda<strong>de</strong> urbana, que<br />
consi<strong>de</strong>rava o campo como lugar atrasado e arcaico começava a mudar e<br />
consequent<strong>em</strong>ente o imaginário do hom<strong>em</strong> do campo que projetava o espaço<br />
urbano como único caminho rumo ao <strong>de</strong>senvolvimento e progresso também<br />
começava a sofrer alterações, pois com a industrialização crescente nas primeiras<br />
décadas do século XX, o país foi levado a frear o crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado das<br />
cida<strong>de</strong>s e veicular ao campo um projeto estrutural <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, não<br />
necessitando, com isso, <strong>de</strong> o sertanejo migrar para a cida<strong>de</strong> <strong>em</strong> busca <strong>de</strong><br />
melhores condições <strong>de</strong> vida. Sobre essas formas <strong>de</strong> representação <strong>de</strong> campo e<br />
cida<strong>de</strong> nos discursos literários, Raymond Willians (1989) diz que elas são feitas<br />
por meio <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> oposição com o outro, e <strong>de</strong> uma forma s<strong>em</strong>elhante<br />
acontece com seus habitantes, ou seja, a imag<strong>em</strong> do hom<strong>em</strong> do campo era<br />
construída <strong>em</strong> oposição ao hom<strong>em</strong> urbano.<br />
Ao trazer essa perspectiva discursiva acerca da literatura como<br />
promulgadora <strong>de</strong> novos conceitos e práticas, me reporto a Foucault para atrelar a<br />
ela a óptica do que esse autor pensa a respeito <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ensino:<br />
O que é, afinal, um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ensino senão a ritualização da<br />
palavra, senão uma qualificação e uma fixação dos papéis dos<br />
sujeitos que falam, senão a constituição <strong>de</strong> um grupo doutrinário<br />
ao menos difuso, senão a distribuição e uma apropriação do<br />
discurso com seus po<strong>de</strong>res e seus saberes? (FOCAULT, 1999,<br />
p. 44-45).<br />
Ao ver a educação sob o caráter institucional <strong>de</strong> Foucault (1999),<br />
associada às práticas literárias mencionadas, que notei a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o<br />
Almanaque Biotônico Fontoura, ao avançar os muros da escola rumo às salas <strong>de</strong><br />
aulas e tornar-se um material <strong>de</strong> leitura, contribuiu para a ritualização <strong>de</strong> uma<br />
imag<strong>em</strong> representativa <strong>de</strong> sertanejo, que mediante as práticas <strong>de</strong> leituras e<br />
interpretações da história do Jeca Tatu narrada no Almanaque, fixou a idéia <strong>de</strong><br />
ser o Jeca um hom<strong>em</strong> indolente e preguiçoso.