Comissão Especial da Bioenergia - RCE 1/2006 - Relatório
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Observa-se, hoje, o empenho do governo federal para o incentivo ao uso do óleo de mamona.<br />
Esse empenho se justifica pelo fato <strong>da</strong> mamona crescer espontaneamente, nas áreas rurais de<br />
todo o País. Assim, se os preços forem compensadores, os agricultores terão condições de<br />
colher, secar, peneirar e ensacar manualmente os grãos, sem a necessi<strong>da</strong>de de grandes<br />
investimentos. Suas características químicas e físicas permitem aplicações como lubrificante<br />
de alto desempenho ou como impermeabilizante (neste caso, após hidrogenação), mais nobres<br />
que biodiesel. Tudo isso justifica o incentivo e até o subsídio à produção, principalmente,<br />
pelos benefícios sociais.<br />
Outras fontes de óleo com características semelhantes, sob o ponto de vista químico, são as<br />
palmáceas, como o coco, o babaçu, o dendê. Entre as palmáceas, o babaçu apresenta maior<br />
potencial, pois, além do óleo, tem como subprodutos o amido, as fibras e um carvão vegetal<br />
de alta quali<strong>da</strong>de.<br />
Planta nativa brasileira, o babaçu tem sido criminosamente erradicado, para <strong>da</strong>r lugar a<br />
pastagens. Assim, há necessi<strong>da</strong>de urgente de um programa que incentive o melhor<br />
aproveitamento desta fonte de bioenergia. Atualmente existem estudos que mostram as<br />
melhores formas de cultivo e de processamento do babaçu, substituindo os processos atuais,<br />
que além de artesanais, exploram o trabalho escravo e o infantil.<br />
O dendê é a oleaginosa de maior produtivi<strong>da</strong>de entre as palmeiras, por se desenvolver bem em<br />
regiões úmi<strong>da</strong>s. O problema que se tem com essa cultura é a agressão sofri<strong>da</strong> por pragas, o<br />
que exige o uso de agrotóxicos. Faz-se necessário, assim, um programa de pesquisas no<br />
sentido de debelar este problema, o que permitirá que o dendê passe a ser uma rica fonte de<br />
óleo para uso industrial.<br />
Importante fonte de energia, ain<strong>da</strong> pouco explora<strong>da</strong> no Brasil, é o carvão vegetal. A matéria<br />
substitui, com grande vantagem, o carvão mineral, na produção de aço com melhor quali<strong>da</strong>de.<br />
Alem disso, o carvão vegetal exige a plantação de vastas áreas de florestas de eucaliptos, o<br />
que traz vantagens para o meio ambiente. É pouco divulgado o fato que uma floresta madura<br />
absorve pequena quanti<strong>da</strong>de de CO2, enquanto uma floresta em crescimento o absorve em<br />
altos volumes, gerando quanti<strong>da</strong>de aproxima<strong>da</strong>mente igual de oxigênio. Assim, as jovens<br />
florestas que estão substituindo pastagens ou terrenos não aráveis contribuem para a redução<br />
do efeito estufa.<br />
Outra vantagem do eucalipto é que ele deposita, anualmente, cerca de 25 cm de matéria<br />
orgânica no solo, melhorando sua fertili<strong>da</strong>de. Com as condições favoráveis de extensão<br />
territorial e de clima, além dos conhecimentos já desenvolvidos, o Brasil tem condições de<br />
liderar o mundo na produção de carvão vegetal, deixando de depender <strong>da</strong> importação de<br />
carvão mineral.<br />
Note-se que a economia de divisas é apenas uma <strong>da</strong>s vantagens, quando se pensa na geração<br />
de oportuni<strong>da</strong>des para melhor aproveitamento <strong>da</strong> nossa condição climática e territorial:<br />
combinando a produção de biomassa e mineral, poderemos exportar metais puros e suas ligas,<br />
no lugar dos minerais, o que representa exportar, indiretamente, a produção agrícola.<br />
(Nilton Nunes Toledo engenheiro de Produção, mestre em Engenharia Mecânica,<br />
professor doutor do Departamento de Engenharia de Produção <strong>da</strong> POLI-USP e em<br />
Administração <strong>da</strong> Produção <strong>da</strong> FEA-USP, é especialista em bioenergia).<br />
Gazeta Mercantil - 30/06/<strong>2006</strong><br />
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