Comissão Especial da Bioenergia - RCE 1/2006 - Relatório
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SEBO DE BOI VIRA BIODIESEL<br />
A Refinaria de Manguinhos, arren<strong>da</strong><strong>da</strong> para uma empresa paulista, a Ponte Di Ferro<br />
Comércio e Indústria de Combustíveis, iniciou recentemente a produção de biodiesel de sebo<br />
bovino. No dia 1º de julho a primeira entrega do produto será feita para a Petrobrás que, até o<br />
fim do ano, receberá 31 milhões de litros de biodiesel de sebo, o que abre nova perspectiva<br />
para a agroindústria.<br />
"O biodiesel pode ser feito a partir de várias matérias-primas oleaginosas, e o sebo liquefeito é<br />
um óleo como qualquer outro", diz o produtor Carlos Zveibil Neto, que desenvolveu a<br />
tecnologia com aju<strong>da</strong> do Centro de Pós-Graduação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de<br />
Janeiro.<br />
Um pouco mais barato do que o biodiesel de óleo de soja, que Zveibil também produz, mas<br />
em outra uni<strong>da</strong>de, em Taubaté (SP), o combustível feito de sebo tem potencial, já que ca<strong>da</strong><br />
boi abatido fornece 15 quilos de sebo aproveitável (o sebo junto <strong>da</strong> pele não é usado). Com o<br />
abate de 23 milhões de cabeças no ano passado, <strong>da</strong>dos do IBGE e <strong>da</strong> Scot Consultoria, o<br />
potencial brasileiro é produzir quase 350 milhões de litros de biodiesel de sebo/ano. Hoje, o<br />
sebo é mais usado como combustível em caldeiras de frigoríficos.<br />
INVENÇÃO ITALIANA<br />
O biodiesel feito de sebo não é invenção brasileira, mas sim italiana, tanto que a metalúrgica<br />
Dedini, de Piracicaba (SP), adquiriu o know how e está iniciando a produção de equipamentos<br />
para fazer biodiesel de sebo, com licença <strong>da</strong> Balestra, empresa italiana. Esses equipamentos,<br />
porém, já encomen<strong>da</strong>dos pela Ponte Di Ferro e por um grande frigorífico, que também<br />
pretende usar sebo para biodiesel, permitem produzir de forma contínua, mas são caros e não<br />
estão disponíveis.<br />
Para adiantar o início <strong>da</strong> produção, pois ganhou um leilão para entregar 50 milhões de litros à<br />
Petrobrás, a Ponte Di Ferro passou a produzir no sistema desenvolvido pela UFRJ, de<br />
batela<strong>da</strong>. Ela compra o sebo semi-processado de uma graxaria de Jales (SP), já com a acidez e<br />
a quanti<strong>da</strong>de de água reduzi<strong>da</strong>s. Ao recebê-lo, a Ponte Di Ferro liquefaz o sebo, o que não<br />
exige muita energia, já que com 60 graus ele já derrete.<br />
O próximo passo é misturar o metanol e alguns componentes químicos. Para ca<strong>da</strong> matériaprima<br />
destina<strong>da</strong> à produção de biodiesel há um tratamento especial. Da soja, é preciso retirar<br />
o fósforo; do girassol, a cera; do algodão, as fibras, e o sebo também exige certas reações<br />
químicas. Processado, o sebo oferece três produtos: o biodiesel, que é igual ao produto feito<br />
de soja ou de girassol, cujo odor lembra o do álcool; a glicerina loira, que também é vendi<strong>da</strong>;<br />
e a água mistura<strong>da</strong> com metanol, que pode ser recuperado posteriormente, para reutilização.<br />
ANÁLISE<br />
O biodiesel de sebo já foi analisado pelos laboratórios credenciados pela Petrobrás e atingiu<br />
as normas <strong>da</strong> Agência Nacional de Petróleo (ANP). Ele só não é indicado para exportação<br />
porque, a menos de 5 graus, precipita a gordura, enquanto o biodiesel de soja é mais<br />
resistente, precipitando a 0 grau.<br />
Embora esteja confiante no biodiesel de sebo, Zveibil enumera alguns problemas. O sistema<br />
que está usando, de batela<strong>da</strong>, é menos adequado do que as usinas que encomendou. "Se há um<br />
problema na produção, a usina o corrige logo, enquanto no sistema de batela<strong>da</strong> corre-se o<br />
risco de perder uma quanti<strong>da</strong>de maior do produto até que o erro seja corrigido."<br />
O outro problema é o preço - R$ 650 por tonela<strong>da</strong> de sebo processado, pois há poucas<br />
graxarias. Outro problema é a logística, pois tem que transportar o sebo por mais de 800<br />
quilômetros. "O transporte torna inviável fazer biodiesel com sebo de Estados distantes", diz.<br />
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