josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
INTRODUÇÃO<br />
Des<strong>de</strong> o início do ano <strong>de</strong> 1917, a Fe<strong>de</strong>ração Operária do Rio <strong>de</strong> Janeiro, FORJ,<br />
promoveu <strong>um</strong>a intensa campanha contra o a<strong>um</strong>ento dos aluguéis, dos alimentos e pelo fim<br />
da carestia em geral, cujos efeitos, como sempre, tornavam mais amarga a vida dos<br />
operários. A FORJ realizou comícios em praça pública nos diversos bairros da então<br />
Capital Fe<strong>de</strong>ral, aos sábados e domingos à tar<strong>de</strong> 1 . Participando da organização e<br />
realização <strong>de</strong>stes eventos estava o <strong>anarquista</strong> José Oiticica, que havia se <strong>de</strong>clarado<br />
<strong>militante</strong> da causa em 1912, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo-a até a data <strong>de</strong> sua morte, em 1957.<br />
O presente trabalho tem como principal objetivo analisar a multifacetada ―trajetória<br />
<strong>anarquista</strong>‖ <strong>de</strong> José Rodrigues Leite Oiticica. Para <strong>um</strong>a análise mais completa <strong>de</strong><br />
personagens faz-se necessário, como afirma Gilberto Velho, observar ―os conflitos,<br />
alianças e a interação em geral‖ que são, também, responsáveis pela construção da<br />
própria vida social, a qual está relacionada à ―interação entre indivíduos e suas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
relações‖, isto porque o papel social <strong>de</strong> <strong>um</strong> indivíduo não está situado em <strong>um</strong> único plano,<br />
pelo contrário, a própria existência individual ―está condicionada a essas múltiplas<br />
realida<strong>de</strong>s‖ 2 . Sendo assim, acredito que, ao abordarmos tal trajetória, conseguiremos, ao<br />
menos em parte, conhecer o personagem, seus conflitos, suas realida<strong>de</strong>s, suas<br />
<strong>de</strong>cepções, meios <strong>de</strong> atuação e suas experiências sociais e também o ambiente<br />
sociocultural e político em que ele viveu.<br />
O recorte temporal <strong>de</strong>ste trabalho será <strong>de</strong>limitado cronologicamente entre 1912 e<br />
1919. A opção por este período se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong>, em 1912, Oiticica ter <strong>de</strong>clarado, no<br />
semanário anticlerical A Lanterna, ser <strong>anarquista</strong>. Escolhi encerrar o trabalho em 1919 por<br />
ser este o ano em que o personagem retornou à Capital Fe<strong>de</strong>ral, após ter sido <strong>de</strong>portado<br />
juntamente com sua família para o Estado <strong>de</strong> Alagoas <strong>de</strong>vido a sua participação na greve<br />
<strong>de</strong> caráter insurrecional ocorrida no Rio <strong>de</strong> Janeiro em 1918 3 . Assim, a pesquisa se dá,<br />
temporalmente, entre sua entrada no anarquismo e o retorno <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sterro.<br />
1 ROMERO, José, ―José Oiticica: recordando alg<strong>um</strong>a coisa <strong>de</strong> sua trajetória no movimento<br />
libertário‖, Ação Direta. Ano 11, n°120, ago-set. 1957.<br />
2 VELHO, Gilberto. Projeto e Metamorfose: Antropologia das Socieda<strong>de</strong>s Complexas. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: Jorge Zahar, 1994, p. 21.<br />
3 ADDOR, Carlos Augusto. A insurreição <strong>anarquista</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Achiamé,<br />
2° Ed. 2002. Essa questão será retomada e aprofundada no Terceiro Capítulo.<br />
10