josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
atalha memorável entre o saber e a mediocrida<strong>de</strong>‖ 115 . Esta perspectiva, certamente<br />
reflete sua forte admiração pelo personagem. Seguindo, comenta que após sua<br />
apresentação, alcançando o mesmo nível dos concursos anteriores, seus examinadores<br />
sentiram-se tentados a reprová-lo, pois além <strong>de</strong> se sentirem <strong>de</strong>srespeitados, eram contra<br />
sua postura política, <strong>anarquista</strong> e anticlerical.<br />
O diretor do colégio, Carlos Laet, <strong>um</strong> dos mais criticados entre os examinadores, 116<br />
teve papel fundamental na aprovação do candidato. Após arg<strong>um</strong>entar a favor da<br />
capacida<strong>de</strong> intelectual <strong>de</strong> Oiticica, e afirmar que ele não po<strong>de</strong>ria ser reprovado <strong>de</strong>vido às<br />
divergências entre seus pontos <strong>de</strong> vista com os da banca examinadora, e que o<br />
anarquismo e o ateísmo do candidato não po<strong>de</strong>riam influenciar <strong>de</strong> forma alg<strong>um</strong>a o<br />
resultado, pois não tinham nenh<strong>um</strong>a relação com a avaliação proposta pela banca, Oiticica<br />
foi aprovado por unanimida<strong>de</strong> e nomeado para o cargo que exerceu durante 35 anos, até<br />
1952 quando, aos 70 anos, foi compulsoriamente aposentado.<br />
Durante este período, Oiticica se afastou da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> professor do Colégio Pedro<br />
II somente nas ocasiões em que esteve preso, <strong>de</strong>vido a suas atuações políticas e também<br />
quando foi ministrar <strong>um</strong> curso <strong>de</strong> literatura portuguesa, a convite do governo alemão, na<br />
Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hamburgo, entre os anos <strong>de</strong> 1929 e 1930.<br />
A partir da leitura <strong>de</strong> <strong>um</strong> trecho da aula inaugural do Colégio Pedro II, ministrada<br />
por Bernardo Pereira <strong>de</strong> Vasconcelos, po<strong>de</strong>mos observar o quanto esta instituição se<br />
norteava por princípios tradicionais e, apesar <strong>de</strong> longo, o transcreverei na íntegra:<br />
Nenh<strong>um</strong> cálculo <strong>de</strong> interesse pecuniário, nenh<strong>um</strong> motivo menos nobre e menos<br />
patriótico, que o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> boa educação da mocida<strong>de</strong> e do estabelecimento <strong>de</strong><br />
proveitosos estudos, influiu na <strong>de</strong>liberação do Governo. Revela, pois, ser fiel a<br />
este princípio: manter e unicamente adotar os bons métodos; resistir a<br />
inovações que não tenham a sanção do tempo e o abono <strong>de</strong> felizes resultados;<br />
prescrever e fazer abortar todas as espertezas <strong>de</strong> especuladores astutos, que<br />
ilaqueam a credulida<strong>de</strong> dos pais <strong>de</strong> família com promessas <strong>de</strong> fáceis, e rápidos<br />
processos na educação <strong>de</strong> seus filhos; e repelir os charlatães que aspiram à<br />
celebrida<strong>de</strong>, inculcando princípios e métodos que a razão <strong>de</strong>sconhece, e, muitas<br />
vezes, assustada, reprova. Que importa que a severida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa disciplina,<br />
que a prudência e a salutar lenteza com que proce<strong>de</strong>mos nas reformas, afastem<br />
do Colégio muitos alunos? O tempo, que é sempre o condutor da verda<strong>de</strong> e o<br />
<strong>de</strong>struidor da impostura, fará conhecer o seu erro. O Governo só fita a mais<br />
perfeita educação da mocida<strong>de</strong>: ele <strong>de</strong>ixa (com não pequeno pesar) as<br />
115 RODRIGUES, Edgar. Os Libertários. Rio <strong>de</strong> Janeiro, VRJ, 1993. p. 37.<br />
116 SAMIS, Alexandre, op. cit, loc. cit.<br />
52