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josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

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fossem surgindo diferenças nesses campos. Segundo, Azevedo.<br />

Na literatura, a ficção tem livre trânsito, é recurso rotineiro do autor quando não<br />

tem doc<strong>um</strong>entação suficiente para <strong>de</strong>senhar o personagem e necessita explicar<br />

<strong>um</strong> fato, ou mesmo tornar sua narrativa mais interessante. [...]. Na história o<br />

caminho é outro: sem querer estar ao lado do rigor positivista, a doc<strong>um</strong>entação<br />

<strong>de</strong>ve imprimir ponto <strong>de</strong> vista à narrativa, é ela que <strong>de</strong>termina e dirige o caminho<br />

a percorrer. 22<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber então que, segundo esta óptica, o que divi<strong>de</strong> esses estilos <strong>de</strong><br />

biografia entre literária e histórica é a utilização da ficção na composição do texto. Sobre o<br />

uso da ficção, François Dosse escreve que ―o recurso à ficção no trabalho biográfico é,<br />

com efeito, inevitável na medida em que não se po<strong>de</strong> restituir a riqueza e a complexida<strong>de</strong><br />

da vida‖ 23 . Sendo assim o ―gênero biográfico é <strong>um</strong>a mescla <strong>de</strong> erudição, criativida<strong>de</strong><br />

literária e intuição psicológica‖ 24 . Para o autor, o biógrafo <strong>de</strong>ve manter o meio termo entre<br />

erudição e ficção, pois ―ce<strong>de</strong>r a qualquer <strong>de</strong>sses dois elementos mutuamente exclu<strong>de</strong>ntes<br />

só faria com que o biógrafo se per<strong>de</strong>sse nos dois planos‖ 25 .<br />

Assim, em certos momentos <strong>de</strong>ste trabalho, nos quais as fontes não me permitiram<br />

supor as intenções do personagem, procurei levantar possibilida<strong>de</strong>s para tais ações,<br />

valendo-me da criativida<strong>de</strong> literária, como forma <strong>de</strong> ponte entre <strong>um</strong>a atitu<strong>de</strong> e outra.<br />

Optando pela técnica da narração, os historiadores biógrafos <strong>de</strong>vem articulá-la à<br />

explicação, ou seja, história narrativa e história problema. Esta última procura elaborar<br />

respostas possíveis para <strong>um</strong>a pergunta que, feita <strong>de</strong> início, embasa os r<strong>um</strong>os da pesquisa<br />

e apóia o olhar lançado às fontes.<br />

Outro problema metodológico é o risco da representativida<strong>de</strong>, ou seja: até que<br />

ponto os personagens biografados representam sua época e/ou sua classe? Ao se pensar<br />

nisso, surgem dois problemas, ―escrever <strong>um</strong>a narrativa vazia <strong>de</strong> sentimentos sociais mais<br />

amplos e, por outro lado, escrever <strong>um</strong>a narrativa valorizando apenas a parte portadora <strong>de</strong><br />

sentidos sociais da vida do biografado‖ 26 . A saída, sempre complexa, para tal questão,<br />

talvez seja percebermos a relação entre o indivíduo, sua singularida<strong>de</strong>, e a socieda<strong>de</strong> na<br />

22 AZEVEDO, Francisca L. Nogueira. ―Biografia e Gênero‖. In: GUAZELLI. I<strong>de</strong>m, Porto Alegre: Ed<br />

UFRS, 2000, p.132.<br />

23 DOSSE, Fançois. O <strong>de</strong>safio biográfico: escrever <strong>um</strong>a vida. Trad. Gilson César Cardoso <strong>de</strong><br />

Souza, São Paulo: Edusp, 2009, p.55.<br />

24 DOSSE, Fançois ,op. cit, p.60.<br />

25 DOSSE, Fançois ,op. cit, p.63.<br />

26 XAVIER, Regina Célia Lima. ―O <strong>de</strong>safio do trabalho biográfico‖. In: GUAZELLI, op. cit, p.165.<br />

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