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josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

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motivação patriótica surtiu efeito e diminuiu as agitações operárias no final <strong>de</strong> 1917. 254<br />

Os <strong>anarquista</strong>s, opositores da Guerra Mundial, como já foi mencionado,<br />

intensificaram sua batalha contra o conflito; se antes os motivos eram políticos, agora os<br />

<strong>militante</strong>s da teoria ácrata estavam per<strong>de</strong>ndo sua força <strong>de</strong> combate. Assim, tentaram<br />

mostrar que os objetivos da Guerra eram contrários aos interesses do trabalhador, pois ela<br />

era, assim como todas as outras, ―mercantil, visceralmente guerra <strong>de</strong> banqueiros [...]. Os<br />

‗homens do dinheiro‘ é que fazem guerra, pondo à frente os discursadores e os patriotas<br />

entusiastas‖ 255 . O patriotismo motivado pela guerra <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ria, segundo os i<strong>de</strong>ais<br />

<strong>anarquista</strong>s, <strong>um</strong>a Pátria que seria o motivo da ―separação entre homens, motivo das<br />

digladiações comerciais, agrupamentos <strong>de</strong> banqueiros e capitalistas gananciosos que<br />

ilu<strong>de</strong>m a massa estulta para se enriquecerem às sombras <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>iras.‖ 256<br />

O <strong>anarquista</strong>, segundo Oiticica, não é contra a Pátria, mas contra a ―Pátria pretexto<br />

<strong>de</strong> extorsão‖. Ele mesmo, em carta aberta ao Dr. Aurelino Leal, se diz patriota, mas <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a maneira diferente:<br />

Vossa Ex. é patriota e eu também sou: mas eu sou diferentemente <strong>de</strong> V.<br />

Ex., eis tudo. Amo extremamente este Brasil, terra admirável,<br />

pessimamente aproveitada; amo a sua natureza estupenda e (sic), em<br />

prosa e verso. [...]; sinto-me gran<strong>de</strong> em ser brasileiro, porém em ser homem:<br />

amo o povo <strong>de</strong>sta terra, a infeliz raça <strong>de</strong>sprezada, amargurada na<br />

escravidão, <strong>de</strong>spedaçada na ban<strong>de</strong>iras e entradas, escorraçada por quanto<br />

explorador nacional ou estrangeiro a avulta. [...]. Não sou nativista, não sou<br />

xenófobo: vejo em qualquer trabalhador, em qualquer homem digno, <strong>um</strong><br />

compatriota; entre <strong>um</strong> brasileiro ruim e <strong>um</strong> estrangeiro bom dou preferência<br />

ao ultimo; penso que minha terra po<strong>de</strong> ser amada e servida por muitos<br />

estrangeiros melhor e mais intensamente que por muitos brasileiros<br />

negocistas, paspalhões e <strong>de</strong>vassos. 257<br />

Com esses discursos, José Oiticica e seus companheiros tentavam <strong>de</strong>monstrar aos<br />

trabalhadores que a luta proletária não era antipatriótica, que o verda<strong>de</strong>iro sentimento <strong>de</strong><br />

patriotismo <strong>de</strong>veria ser expresso no combate a esta guerra que promovia a separação dos<br />

homens, a morte da h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> interesses <strong>de</strong> poucos, interesses<br />

mercantilistas. Como ele afirmava, todos os homens po<strong>de</strong>riam ser compatriotas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

254 DULLES, John W. Foster, op. cit, p.61-62.<br />

255 OITICICA, José. ―O Motivo‖. Liberda<strong>de</strong>. Ano II, N°23, Set. 1918.<br />

256 OITICICA, José. ―A questão operária. Carta aberta <strong>de</strong> José Oiticica ao Sr.Dr. Aurelino Leal‖. O<br />

Cosmopolita. Ano II, N°30, abr. 1918.<br />

257 OITICICA, José. ―A questão operária. Carta aberta <strong>de</strong> José Oiticica ao Sr.Dr. Aurelino Leal‖. O<br />

Cosmopolita. Ano II, N°30, abr. 1918.<br />

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