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josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

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qual vive, buscando assim a inter-relação entre o individual e o coletivo.<br />

O historiador biógrafo passa por outro problema: o risco <strong>de</strong>, ao biografar <strong>um</strong><br />

personagem, acabar apenas transcrevendo o que pensa ser a história <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ste,<br />

findando por escrever <strong>um</strong>a biografia na qual o personagem sempre seguiu <strong>um</strong>a trajetória<br />

linear, coerente e sem in<strong>de</strong>cisões. A isso Pierre Bourdieu chama <strong>de</strong> ―ilusão biográfica‖,<br />

para ele,<br />

o relato, seja ele biográfico ou autobiográfico, como o do investigado que ‗se<br />

entrega‘ a <strong>um</strong> investigador, propõe acontecimentos que, sem terem se<br />

<strong>de</strong>senrolado sempre em sua estrita sucessão cronológica, ten<strong>de</strong>m ou preten<strong>de</strong>m<br />

organizar-se em seqüências or<strong>de</strong>nadas segundo relações inteligíveis. O sujeito<br />

e o objeto da biografia têm <strong>de</strong> certa forma o mesmo interesse em aceitar o<br />

postulado do sentido da existência narrada. 27<br />

Então, ainda segundo Bourdieu, conformar-se com isso, com essa trajetória<br />

coerente, cronológica, n<strong>um</strong>a sequência <strong>de</strong> acontecimentos enquadrados em <strong>um</strong>a direção<br />

linear, é aceitar ―<strong>um</strong>a ilusão retórica‖, porque o real é <strong>de</strong>scontinuo, imperfeito e in<strong>de</strong>ciso.<br />

Devemos notar ainda a diferença entre história <strong>de</strong> vida e biografia, pois <strong>um</strong>a<br />

biografia preocupa-se com as relações sociais nas quais o biografado está inserido e não é<br />

feita apenas da or<strong>de</strong>nação cronológica dos fatos vividos pelo indivíduo. Haike Roselane<br />

Kleber da Silva, ao falar <strong>de</strong> seu trabalho biográfico sobre Jacob Aloys Frie<strong>de</strong>richs, afirma<br />

que as pesquisas biográficas <strong>de</strong>vem ―evitar o binômio vida e obra‖, sem pren<strong>de</strong>r sua<br />

construção apenas à memória do personagem ou ―à celebração <strong>de</strong> seus fatos‖. Neste caso,<br />

trazer apenas os gran<strong>de</strong>s feitos <strong>de</strong> Oiticica <strong>de</strong>ntro do movimento operário seria <strong>um</strong> erro,<br />

pois não revelaria a construção do anarquismo no personagem nem as facetas vividas por<br />

ele, que permitiram seus projetos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seus campos <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s. O caminho a<br />

seguir é a análise da multiplicida<strong>de</strong> e imprevisibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatos que interferem e formam a<br />

trajetória <strong>de</strong> <strong>um</strong> indivíduo. 28<br />

No entanto, Azevedo faz <strong>um</strong>a ressalva, pois,<br />

embora a biografia não se restrinja à história <strong>de</strong> vida, a construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

biografia não po<strong>de</strong> prescindir das histórias <strong>de</strong> vida, [...] essa imprescindibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>corre do fato da biografia ter como ponto <strong>de</strong> partida o conhecimento da vida<br />

27 BOURDIEU, Pierre. ―A ilusão biográfica‖. In: FERREIRA, op. cit, p. 246.<br />

28 HAIKE, Roselane Kleber da Silva. ―Biografando <strong>um</strong> imigrante: mas por que Jacob Aloys<br />

Frie<strong>de</strong>richs?‖ IN Métis: história e cultura. Caxias do Sul, EDUSC, v.2,n.3, jan-jun/2003, p.147.<br />

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