josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
progresso] exatamente quem mais os colocava em evidência: os trabalhadores‖. 139<br />
Oiticica não fugiria à regra e, assim, tinha a preocupação <strong>de</strong> se fazer enten<strong>de</strong>r ao falar ou<br />
transcrever suas idéias. Acreditava, também, que a ação discursiva <strong>de</strong>veria ser <strong>um</strong><br />
exercício pedagógico que possibilitasse a compreensão do leitor das idéias do autor. Em<br />
suas palavras,<br />
Pensar <strong>de</strong>ve ser antes <strong>de</strong> tudo, criação estética. Pensamento sem beleza<br />
não dá pensamento: é, no máximo, <strong>um</strong> pouco da verda<strong>de</strong> proferida por <strong>um</strong><br />
sábio: é possibilida<strong>de</strong>, massa para <strong>um</strong> ‗fiat‘, pedra para <strong>um</strong> camafeu. Por<br />
isso vale tanto a idéia quanto a frase. Um pensamento encaixado em frase<br />
troncha ou áspera, sofre; os ouvidos apurados ouvem-no chorar. Ao<br />
contrário, <strong>um</strong> pensamento frágil, embutido n<strong>um</strong>a frase límpida, canta e reza.<br />
Os gran<strong>de</strong>s pensamentos encoastados em períodos lapidares são seres<br />
vivos, tem sangue e ‗lympha‘, respiram, falam, movem-se e comovem. 140<br />
Aqui, notamos a importância dos estudos <strong>de</strong> filologia na formação do pensamento<br />
<strong>de</strong> Oiticica. Se esses não são usados <strong>de</strong> forma direta na formulação <strong>de</strong> suas teorias<br />
explicativas sobre os problemas sociais, o auxiliam ou o influenciam na preocupação <strong>de</strong><br />
como se fazer enten<strong>de</strong>r. Amparado nas discussões sobre as formas <strong>de</strong> escrita, ele leva<br />
seus aprendizados filológicos para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> ―seu novo mundo‖: o <strong>de</strong> ―propagador <strong>de</strong><br />
idéias ácratas‖.<br />
Unindo todo seu conhecimento erudito com as <strong>de</strong>mais experiências <strong>de</strong> vida,<br />
Oiticica elaborara sua teoria eivada <strong>de</strong> saberes científicos, vivências pessoais e ―valores<br />
<strong>anarquista</strong>s‖. Ele inicia sua jornada procurando convencer os integrantes do movimento<br />
sindical, e também todos os que lhe ouvissem, sobre os benefícios <strong>de</strong> <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong><br />
<strong>anarquista</strong>. Para ser bem sucedido, acreditava que era <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância que suas<br />
idéias fossem transmitidas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma compreensível e bela para seus ouvintes e<br />
leitores. Para tanto, ao abordar o tema anarquismo, buscou explicá-lo a partir <strong>de</strong><br />
conhecimentos sobre Biologia, Física e Química, relacionando-os à Sociologia e Filosofia,<br />
almejando assim revelar os problemas sociais da h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong>.<br />
Esse sentimento il<strong>um</strong>inista também po<strong>de</strong>ria estar ligado ao reconhecimento que,<br />
139 BARRANCOS, Dora. A escena il<strong>um</strong>inada. Ciências para trabajadores (1890-1930). Buenos<br />
Aires: Editorial Plus Ultra, 1996, p.17-18; no contexto local o alcance <strong>de</strong>ssas idéias foi analisado por<br />
SCHMIDT, Benito. ―O Deus do progresso: a difusão do cientificismo no movimento operário gaúcho<br />
da I República‖. Revista Brasileira <strong>de</strong> História. São Paulo: ANPUH/H<strong>um</strong>anitas Publicações, vol. 21,<br />
n° 41, 2001, p. 113-126.<br />
140 OITICICA, José. ―Culto á forma‖. Correio da Manhã, <strong>de</strong>z. 1921.<br />
62