josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
E afirma, em toda a Terra, a glória dos meus fins 303<br />
Desta forma, José Oiticica afirma que continuará sua luta, que nem a mais dura das<br />
prisões conseguirá interromper sua ―Via-Sacra‖ para a emancipação do homem e nem as<br />
mais duras medidas repressivas conseguirão suplantar suas teorias <strong>anarquista</strong>s. É<br />
possível notar novamente aqui a construção do herói operário que, segundo Bilhão, tem<br />
como requisito indispensável a <strong>de</strong>fesa e manutenção <strong>de</strong> sua honra, logo ―a exposição<br />
pública <strong>de</strong> seus atributos <strong>de</strong> honra<strong>de</strong>z: sua coragem, <strong>de</strong>sprendimento material,<br />
honestida<strong>de</strong> e combativida<strong>de</strong>, tornam-no digno <strong>de</strong> ser <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo a ser seguido por todos<br />
os trabalhadores‖. 304<br />
Esta exposição pública <strong>de</strong> atributos po<strong>de</strong> ser notada mais <strong>um</strong>a vez<br />
em <strong>um</strong> poema sem título <strong>de</strong> Oiticica, escrito durante o período em que esteve preso no Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, esperando seu julgamento pela tentativa <strong>de</strong> levante, em 1918:<br />
Irmãos, eu vos saúdo! [ilegível] presos,<br />
Ameaçados, malditos, seu futuro,<br />
Temos, em nossos braços in<strong>de</strong>fesos<br />
Azas <strong>de</strong> anjos e tendões <strong>de</strong> palinuro<br />
Estes focos azuis em nós acesos,<br />
__Luz da gran<strong>de</strong> Cida<strong>de</strong> que procuro<br />
Hão <strong>de</strong> ar<strong>de</strong>r ante os sátrapas [ilegível]sorprêsos<br />
Criando pôr Lei o que hoje é sonho puro<br />
__Guerreiros da Anarquia_ os sofrimentos<br />
São, para nós, auréola e honra sublime,<br />
E mais nos honram quanto mais violentos<br />
Tenhamos por bemvindas nossas dores;<br />
Que a dor aos homens justos não oprime<br />
E torna os mais, superiores.<br />
(José Oiticica, 1918) 305<br />
As palavras <strong>de</strong> Oiticica incentivando a continuação da luta vêm mais <strong>um</strong>a vez<br />
enquadrar-se na analogia <strong>de</strong> criação da imagem <strong>de</strong> herói, pois, como afirma Silva Júnior,<br />
―O herói operário não é o que faz <strong>um</strong>a única coisa, mas que, a cada dia, coloca <strong>um</strong>a pedra<br />
a mais na construção <strong>de</strong> <strong>um</strong> status para sua pessoa [...]. Isso parece constituir o que há <strong>de</strong><br />
303 OITCICA, José. ―A Hora‖. Sonetos (1911-1918), op. cit., p.181.<br />
304 BILHÃO, Isabel. ―Herói nacional e herói operário: análise comparativa <strong>de</strong> suas construções<br />
históricas‖. In:Métis: História & Cultura, Caxias do Sul, Revista <strong>de</strong> História da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Caxias do Sul,v.1, n.2, jul-<strong>de</strong>z, 2002, p.283.<br />
305 Arquivo Astrojildo Pereira 1890-1965, ASMOB-Milano- Archivo Del Movimento Operário<br />
Brasiliano.<br />
127