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josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

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<strong>anarquista</strong>s, muitas vezes ocorrem em conversas informais, entre familiares<br />

e amigos. O movimento operário convive, portanto, com a solidarieda<strong>de</strong> e o<br />

afeto. 298<br />

Uma última análise que aqui proponho é sobre a educação direta <strong>de</strong> seus filhos.<br />

Como pai, Oiticica ensinaria os filhos a seguir as teorias <strong>anarquista</strong>s? No <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong><br />

Sônia, apresentado na dissertação <strong>de</strong> Lauris Junior, em que ela fala sobre a sua relação<br />

com o pai, lê-se que,<br />

Olha meu pai ficava muito pouco tempo em casa. Quanto conversar<br />

conosco, não dava muito tempo, quem queria ia ler o que ele tinha escrito,<br />

quem queria, mas a gente admirava ele, todos nós, e minhas irmãs<br />

chamavam meu pai: -- Os camaradas já vem aí. Os camaradas era <strong>um</strong>a<br />

coisa assim meio misteriosa, que sempre tínhamos os bolinhos dos<br />

camaradas, que minha mãe fazia sempre que eles vinham. 299<br />

Sendo assim, parece-me que, se os filhos <strong>de</strong> José Oiticica tiveram influência das<br />

teorias <strong>anarquista</strong>s, estas vieram por meio da convivência que eles tinham com <strong>militante</strong>s<br />

ácratas em seu lar e também pela leitura dos textos <strong>de</strong> seu pai. O conhecimento do<br />

anarquismo e a admiração pela teoria viria então <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma mais espontânea e não<br />

imposta pela criação paterna.<br />

Talvez Oiticica pensasse da mesma forma que Luigi Fabbri, pai <strong>de</strong> Luce Fabbri.<br />

Rago, ao falar sobre a influência do anarquismo paterno em Luce Fabbri, afirma que,<br />

―atento e zeloso quanto à formação dos filhos, Luigi se recusava a impor-lhes suas idéias e,<br />

sobretudo, negava-se a proibir, procurando aconselhar, sugerir, orientar. Acreditava que o<br />

anarquismo <strong>de</strong>veria se realizar no seio da família, como <strong>um</strong>a primeira criação‖. 300<br />

Possivelmente, nosso personagem, ao <strong>de</strong>ixar suas i<strong>de</strong>ias serem conhecidas pelos seus<br />

filhos somente por meio <strong>de</strong> seus escritos, po<strong>de</strong>ria também pensar que o anarquismo <strong>de</strong>ve<br />

primeiro nascer em cada <strong>um</strong> e, após as reflexões feitas, eles <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>cidir por quais<br />

caminhos e teorias seguiriam.<br />

O carinho e orgulho pelos filhos e a importância que é dada à presença da esposa<br />

em entrevista cedida a O Cruzeiro, <strong>de</strong>nota todo o amor que Oiticica sentia pela sua família,<br />

298 BILHÃO, Isabel. ―Família e o movimento operário: A anarquia <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa‖. In:Estudos<br />

Ibeo-americanos, Porto Alegre, Revista <strong>de</strong> História da PUCRS,v.XXII, n.2, <strong>de</strong>z, 1996, p.209.<br />

299 LAURIS JUNIOR, Renato Luis, op. cit, p.38.<br />

300<br />

RAGO, Margareth. Entre a história e a liberda<strong>de</strong>. Luce Fabbri e o anarquismo<br />

contemporâneo, op. cit, p.39.<br />

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