josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
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apoio do Estado, por ajudar na divulgação da respeitabilida<strong>de</strong> da lei, tornando os homens<br />
passivos às injustiças sociais, a igreja seria mais <strong>um</strong>a instituição a ser <strong>de</strong>rrubada, visto que<br />
este processo <strong>de</strong> controle vem <strong>de</strong> longa data. Como afirma Oiticica,<br />
por toda parte e em qualquer tempo, viçaram religiões, dominaram<br />
sacerdotes, magos e advinhos <strong>de</strong> varia sorte. Des<strong>de</strong> a superstição fanática<br />
até ao êxtase filosófico, sempre houve nos homens esse apego invisível<br />
aos po<strong>de</strong>res ocultos, à direção <strong>de</strong> <strong>um</strong> ser onipotente criador e governador<br />
do mundo. Essa crendice foi ininterruptamente explorada pelos<br />
espertalhões políticos e açambarcadores industriais como instr<strong>um</strong>ento fácil<br />
<strong>de</strong> conquista e escravização. Formaram-se teocracias seculares,<br />
encaixaram-se igrejas e seitas: entreguerrearam-se, por causa <strong>de</strong>la, povos<br />
e raças. 185<br />
Para Oiticica, as religiões seriam <strong>um</strong> dos gran<strong>de</strong>s fatores da <strong>de</strong>sunião existente<br />
entre os homens, que, baseados em suas crenças, digladiam-se por causa das heresias.<br />
Cada heresia torna-se motivo <strong>de</strong> ódio entre povos e nações e, portanto, as religiões não<br />
po<strong>de</strong>m resolver o problema da fraternida<strong>de</strong> entre os homens. 186<br />
Outro problema seria que<br />
a igreja, mantenedora da proprieda<strong>de</strong> privada, seria <strong>de</strong>fensora dos possuidores, sendo<br />
utilizada como instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> controle por políticos que se aproveitam das crenças<br />
religiosas para manter o povo distante das idéias revolucionárias. Logo, Estado e igreja<br />
sempre estariam juntos no objetivo <strong>de</strong> submissão dos povos à injusta socieda<strong>de</strong> capitalista.<br />
Conforme Oiticica,<br />
Os homens acham-se, portanto submetidos a <strong>um</strong>a dupla idolatria<br />
estupidificante: a cívica, dirigida pelo Estado, e a religiosa, dirigida pela<br />
igreja ou igrejas. Os gran<strong>de</strong>s industriais, compreen<strong>de</strong>ndo as vantagens<br />
<strong>de</strong>ssa idolatrização intensiva, promovem movimentos <strong>de</strong> toda sorte com<br />
tais tendências. 187<br />
Era com<strong>um</strong> a organização católica nos meio operários incentivadas pelos<br />
industriais. Como afirma Batalha, a corrente católica estava presente no movimento<br />
operário do início do século XX, buscando combater a influência do anarquismo e do<br />
socialismo no pensamento do trabalhador e, consequentemente, na ação sindical. Da<br />
mesma forma que os movimentos operários, a igreja católica também tinha seus jornais <strong>de</strong><br />
divulgação <strong>de</strong> idéias; estas visavam a promover o entendimento entre trabalhadores e<br />
185 OITICICA, José. ―Eloquente‖- em: Spartacus. N.24 10.01.1920 APUD. JUNIOR, Renato Luis<br />
Lauris, op. cit, loc. cit.<br />
186 OITICICA, José. A Doutrina <strong>anarquista</strong> ao alcance <strong>de</strong> todos, op. cit, p.61.<br />
187 OITICICA, José, op. cit, p.35.<br />
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