14.10.2014 Views

josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

É possível que o que tenha levado Oiticica a fazer este convite tenha sido a<br />

questão familiar; lembremos que, nesta época, ele já era pai, e baseado nas fontes por<br />

mim encontradas, sabemos que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua volta <strong>de</strong> Santa Catarina, em 1909, seu único<br />

vínculo empregatício foi com a Escola Dramática do Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 1914. Assim,<br />

buscando estabilida<strong>de</strong> e conhecendo os processos <strong>de</strong> contratação via concurso, Oiticica<br />

po<strong>de</strong> ter imaginado que a única forma <strong>de</strong> se efetivar em sua profissão seria usando dos<br />

mecanismos do Estado. Então, a ―incoerência‖ aqui observada po<strong>de</strong>ria, entre outros<br />

fatores, ser explicada pela posição <strong>de</strong> arrimo <strong>de</strong> família em que ele se encontrava.<br />

Nesse caso, a questão financeira po<strong>de</strong> ―ter falado mais alto‖ do que suas posições<br />

i<strong>de</strong>ológicas. Isso certamente revela o conflito existente entre o <strong>militante</strong> e o homem<br />

inserido na socieda<strong>de</strong> capitalista, conflito esse que, segundo John French, po<strong>de</strong> ter sido<br />

<strong>um</strong> dos gran<strong>de</strong>s motivos da falta <strong>de</strong> sindicalização entre os operários, levando o<br />

movimento à <strong>de</strong>rrocada 112 . Oiticica, tido por alguns <strong>de</strong> seus admiradores como ―<strong>um</strong><br />

<strong>anarquista</strong> sempre coerente em sua atitu<strong>de</strong>s‖ 113 , em <strong>de</strong>terminado período viu-se obrigado<br />

a participar das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relações existentes <strong>de</strong>ntro dos organismos estatais e<br />

clientelísticos.<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta análise não é diminuir ou questionar a importância da i<strong>de</strong>ologia<br />

<strong>anarquista</strong> para Oiticica. Observando o que já foi escrito na historiografia operária sobre<br />

ele, po<strong>de</strong>mos notar que foi <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>fensor <strong>de</strong>ssa corrente, seguindo e propagando-a<br />

mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o pensamento ácrata não ser mais predominante entre <strong>militante</strong>s da<br />

causa operária. Essas análises ajudam a <strong>de</strong>tectar os caminhos percorridos por Oiticica e<br />

nos auxiliam na percepção <strong>de</strong> que a história <strong>de</strong> vida dos personagens biografados são<br />

―escritas‖ a partir <strong>de</strong> suas relações, oportunida<strong>de</strong>s, sofrimentos, <strong>de</strong>cisões e dos mais<br />

variados fatores que as influenciam. Como afirma Azevedo, observando ―o indivíduo não<br />

como <strong>um</strong> eu autônomo, mas, sim, inserido n<strong>um</strong>a realida<strong>de</strong> dinâmica <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong> coletivo<br />

que se amplia‖. 114<br />

Sobre a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> Oiticica na banca examinadora, relata Rodrigues, ―foi <strong>um</strong>a<br />

112 FRENCH, John. O ABC dos Operários: 1900-1950. Hucitz, São Caetano, 1995, p.47.<br />

113 NEVES, Roberto das (org) Ação Direta. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Germinal,1972, p. 27.<br />

114 AZEVEDO, Francisca L. Nogueira. ―Biografia e Gênero‖. In: GUAZELLI. op. cit, p. 136.<br />

51

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!