josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
parte do governo, o apoio necessário para a sua realização. O Ministério da Educação,<br />
apesar <strong>de</strong> ter existido durante dois anos no início da República, ressurge somente em<br />
1930. Durante o período <strong>de</strong> sua ausência, os assuntos educacionais eram tratados pelo<br />
Ministério da Justiça. Essa falta <strong>de</strong> apoio ou <strong>de</strong>sinteresse po<strong>de</strong> também ser notada no<br />
âmbito populacional: para o povo, a instrução escolar não era tida como primeira<br />
necessida<strong>de</strong>, sendo com<strong>um</strong> relacioná-la a <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> castigo. Tal relação po<strong>de</strong> ser<br />
percebida no livro Infância, <strong>de</strong> Graciliano Ramos, quando ele lembra do período em que foi<br />
obrigado a frequentar a escola após ter quebrado alguns vidros da prateleira da venda <strong>de</strong><br />
seu pai e ficou se perguntando se o que tinha feito era tão grave para merecer tamanha<br />
penalida<strong>de</strong>. 53<br />
O sistema educacional público brasileiro, a partir da elaboração da Constituição <strong>de</strong><br />
1891, seguiu os princípios liberais que norteavam os i<strong>de</strong>ais republicanos. Buscou-se<br />
justificar a organização e o <strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong> brasileira. Portanto, segundo<br />
Maria Auxiliadora Christofaro, a instrução escolar se ajustaria ao projeto dominante da<br />
classe burguesa, que visava propagar a idéia <strong>de</strong> que ―cidadão é aquele que se adapta ao<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização social dominante‖ 54 .<br />
Oiticica, como dito anteriormente, flertava com i<strong>de</strong>ais liberais. Acreditava, no<br />
entanto, que a emancipação do homem po<strong>de</strong>ria vir <strong>de</strong> sua instrução escolar, impedindo<br />
assim que as classes sociais mais baixas vivessem sempre subordinadas aos interesses<br />
das classes mandantes. As disciplinas escolares <strong>de</strong>veriam aguçar a criativida<strong>de</strong> dos<br />
homens para que assim pu<strong>de</strong>ssem realizar suas tarefas na socieda<strong>de</strong> industrial e<br />
ativida<strong>de</strong>s comerciais <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma que possibilitasse sua ascensão nesse meio.<br />
Essa concepção da função educacional, aplicada ao Colégio Latino-Americano 55 , a<br />
qual não buscava satisfazer somente as aspirações da burguesia, po<strong>de</strong>ria ter resultado<br />
n<strong>um</strong> baixo interesse por parte das famílias que po<strong>de</strong>riam pagar mensalida<strong>de</strong>s, o que,<br />
aliado ao <strong>de</strong>sinteresse da população em geral quanto à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino escolar e<br />
53 Ver, RAMOS, Graciliano. Infância. São Paulo, Livraria Martins, 6° Ed. 1967. P.107.<br />
54 HRISTOFARO, Maria Auxiliadora, A organização do sistema educacional brasileiro<br />
e a formação na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Texto <strong>de</strong> apoio elaborado especialmente para o Curso <strong>de</strong><br />
Especialização em Desenvolvimento <strong>de</strong> Recursos H<strong>um</strong>anos <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – CADRHU, p.189.<br />
55 OITICICA, José. Estatutos do Colégio Latino Americano. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Thipographia da<br />
Gazeta <strong>de</strong> Notícias, 1905.<br />
30