14.10.2014 Views

josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

professor José Oiticica tentava <strong>de</strong>monstrar para seus alunos, gran<strong>de</strong> parte advindos das<br />

camadas dominantes da socieda<strong>de</strong> brasileira, que ―ao governo, não interessa o povo<br />

instruído e honesto: só lhe serve o ignorante e o maroto‖ Oiticica buscava assim, <strong>de</strong>struir a<br />

respeitabilida<strong>de</strong> que o ―povo‖ tinha pelos governantes, reservando parte da sua aula para<br />

discutir sobre as teorias <strong>anarquista</strong>s.<br />

Ao pregar as teorias <strong>anarquista</strong>s para os filhos da elite, Oiticica, talvez, estivesse se<br />

baseando na concepção anárquica <strong>de</strong> que a ação contra o Estado não <strong>de</strong>veria seguir a<br />

luta <strong>de</strong> classes. Até porque, para os pensadores ácratas, as classes não eram<br />

homogêneas. Segundo Edilene Toledo, para os <strong>militante</strong>s <strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>ologia ―a luta contra o<br />

Estado e o capitalismo <strong>de</strong>veria ser movida pela concepção que se tem <strong>de</strong> justiça, <strong>de</strong><br />

igualda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, e não pela posição ocupada em <strong>um</strong>a classe<br />

econômica‖ 121 .Sendo assim, encontrou ali mais <strong>um</strong> campo <strong>de</strong> atuação. Possivelmente<br />

pensava ser muito proveitosa a doutrinação <strong>anarquista</strong> também dos her<strong>de</strong>iros das elites<br />

brasileiras, influenciando em suas concepções <strong>de</strong> justiça, igualda<strong>de</strong> e liberda<strong>de</strong>.<br />

Assim, talvez esperasse po<strong>de</strong>r auxiliar no processo <strong>de</strong> emancipação do homem em<br />

relação à socieda<strong>de</strong> capitalista pregada pela teoria Anarquista, pois esses alunos seriam<br />

seus futuros ―comandantes‖. Rodrigues escreveu que Oiticica nunca se disse<br />

revolucionário 122 e, juntamente com sua atuação <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a instituição estatal,<br />

po<strong>de</strong>mos pensar que acreditava também na mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> da elite dominante<br />

motivada pela introdução <strong>de</strong> outras teorias que não eram pregadas pelo Estado. Portanto,<br />

percebemos aqui <strong>um</strong> Oiticica preocupado com a educação da socieda<strong>de</strong>, possivelmente<br />

por acreditar que a educação traria <strong>um</strong> maior conhecimento sobre as injustiças que o<br />

Estado e o sistema capitalista causavam à população, e sabedora <strong>de</strong>stes males, o<br />

caminho para as transformações sociais, que a anarquia pregava, ficaria mais curto.<br />

José Oiticica, assim, levava para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a instituição governamental,<br />

conservadora e elitista as teorias <strong>anarquista</strong>s que almejavam alcançar a transformação<br />

social. Nos anos <strong>de</strong> 1916 e 1917, mesmo o Brasil estando em Guerra contra a Alemanha,<br />

o Governo não proibiu manifestações públicas, direito este garantido pela Constituição<br />

121 TOLEDO, Edilene. A trajetória <strong>anarquista</strong> no Brasil na Primeira República. In: FERREIRA.<br />

I<strong>de</strong>m, p. 64.<br />

122 RODRIGUES, Edgar. Os Libertários. Rio <strong>de</strong> Janeiro, VRJ, 1993, p.50.<br />

54

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!